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Como uma luva
Quer por inépcia, quer por outra razão, conclusões da PF sobre o escândalo do dossiê atendem a anseios do círculo lulista
"O MAIS difícil na solução de problemas é justamente
provar aquilo que
é óbvio." A frase do superintendente da Polícia Federal em
Cuiabá, Daniel Lorenz de Azevedo, sintetiza o desfecho frustrante das investigações sobre o chamado escândalo do dossiê.
Jorge Lorenzetti, "analista de
mídia" da chapa à reeleição presidencial, e Ricardo Berzoini, então presidente do PT e chefe da
campanha de Lula, foram isentos de culpa. O relatório reconhece que o dossiê foi oferecido
de início à campanha nacional do
PT, mas julga insuficientes os
elementos para indiciar seus
principais integrantes. O ônus
recai inteiro sobre a campanha
do senador Aloizio Mercadante,
candidato petista ao governo de
São Paulo, indiciado sob acusação de crime eleitoral.
É de causar espécie que nenhum "aloprado" -o termo é de
Lula- com status na campanha
presidencial tenha sido indiciado. O relatório afirma que "a pessoa encarregada de centralizar
os acordos foi Jorge Lorenzetti",
mas não considera o fato uma
evidência conclusiva.
A incapacidade da PF de "provar o óbvio" veio a calhar para o
séquito lulista. Desde a eclosão
do escândalo, a obsessão do círculo presidencial foi uma só:
isentar a campanha pela reeleição de toda e qualquer responsabilidade na trama para incriminar adversários do PSDB.
O cálculo político mais elementar indicava que os estragos
seriam mais manejáveis com o
episódio circunscrito ao âmbito
estadual. Entre rifar o candidato
derrotado em São Paulo e pôr em
risco o projeto da reeleição, os líderes partidários não hesitaram
em concentrar suas energias na
primeira escolha.
Mas o fato é que Mercadante,
que nega tudo com veemência,
não tem razão para preocupar-se
-ao menos na esfera penal. O relatório não esconde a inépcia (e
essa é a melhor das hipóteses) da
PF, que não conseguiu identificar de modo irrefutável a origem
do dinheiro sujo usado na tentativa de comprar os Vedoin, pivôs
do escândalo dos sanguessugas.
Os modestos avanços na tentativa de traçar o percurso do R$
1,17 milhão e dos US$ 248,8 mil
apreendidos em São Paulo foram
abortados. Atribua-se a culpa à
"constante preocupação de todos os envolvidos em dissimular
os fatos ocorridos, trazendo sérios entraves às investigações."
Alguém precisaria lembrar aos
autores do texto que a polícia
existe justamente para contornar esses "sérios entraves".
Se o relatório fosse uma encomenda da Presidência, dificilmente seria mais apropriado.
Descartada, só por hipótese, a
pressão política, resta a inépcia
da PF -tão decantada no governo Lula por sua "eficiência"-,
incapaz de elucidar o mais grave
escândalo das eleições de 2006.
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