São Paulo, Sábado, 29 de Janeiro de 2000


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A MONTANHA MÁGICA

Mais uma prova da efemeridade das previsões econômicas, o escol de empresários, acadêmicos e membros de governo do mundo, reunido em Davos, na Suíça, agora vê com brilhantismo as perspectivas para o futuro do planeta. No ano passado, esse mesmo seleto grupo, nessa mesma cidade encantadora, tremia só de imaginar os possíveis desdobramentos da crise global, que atingia a América Latina e em especial o Brasil.
A expansão da economia norte-americana, que vive um ciclo de crescimento impressionante, e a recuperação dos países emergentes, notadamente os asiáticos, são as principais razões para o otimismo.
Talvez contaminados pelo clima de confiança, os participantes do encontro anual de 2000 do Fórum Econômico Mundial apontaram como desafios para a próxima década a mudança climática (20,3%), a busca de um novo paradigma de ética (15,7%) e a ineficiência das organizações internacionais (15,1%).
É uma agenda interessante. São questões relevantes e devem sem dúvida estar no horizonte de preocupações, não só de executivos e governantes, como também da população em geral. Trata-se, porém, de um elenco de prioridades de Primeiro Mundo, de nações que já solucionaram, ou pelo menos equacionaram, problemas mais urgentes do ponto de vista social, como a desigualdade, a educação e a saúde.
Para a Europa e a América do Norte são, de fato, temas que perderam a relevância. Embora ainda se possa discutir, por exemplo, a melhor forma de financiamento da seguridade social e qual deve ser o nível ideal de impostos, as formas do tratamento dispensado a essas questões já foram definidas, quando menos desde o pós-guerra, e elas estão até mesmo parcialmente resolvidas. No Brasil e em outros países ditos emergentes, por outro lado, quase tudo nesse campo ainda está por ser feito.
O homem cordial do Brasil não é o homem de Davos. Ainda que as inquietações de um e outro não sejam excludentes, elas estão a anos-luz de distância umas das outras.


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