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A MONTANHA MÁGICA
Mais uma prova da efemeridade das
previsões econômicas, o escol de empresários, acadêmicos e membros de
governo do mundo, reunido em Davos, na Suíça, agora vê com brilhantismo as perspectivas para o futuro
do planeta. No ano passado, esse
mesmo seleto grupo, nessa mesma
cidade encantadora, tremia só de
imaginar os possíveis desdobramentos da crise global, que atingia a
América Latina e em especial o Brasil.
A expansão da economia norte-americana, que vive um ciclo de crescimento impressionante, e a recuperação dos países emergentes, notadamente os asiáticos, são as principais razões para o otimismo.
Talvez contaminados pelo clima de
confiança, os participantes do encontro anual de 2000 do Fórum Econômico Mundial apontaram como
desafios para a próxima década a
mudança climática (20,3%), a busca
de um novo paradigma de ética
(15,7%) e a ineficiência das organizações internacionais (15,1%).
É uma agenda interessante. São
questões relevantes e devem sem dúvida estar no horizonte de preocupações, não só de executivos e governantes, como também da população
em geral. Trata-se, porém, de um
elenco de prioridades de Primeiro
Mundo, de nações que já solucionaram, ou pelo menos equacionaram,
problemas mais urgentes do ponto
de vista social, como a desigualdade,
a educação e a saúde.
Para a Europa e a América do Norte
são, de fato, temas que perderam a
relevância. Embora ainda se possa
discutir, por exemplo, a melhor forma de financiamento da seguridade
social e qual deve ser o nível ideal de
impostos, as formas do tratamento
dispensado a essas questões já foram
definidas, quando menos desde o
pós-guerra, e elas estão até mesmo
parcialmente resolvidas. No Brasil e
em outros países ditos emergentes,
por outro lado, quase tudo nesse
campo ainda está por ser feito.
O homem cordial do Brasil não é o
homem de Davos. Ainda que as inquietações de um e outro não sejam
excludentes, elas estão a anos-luz de
distância umas das outras.
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