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ELIANE CANTANHÊDE
Abrindo o apetite
BRASÍLIA - A informação de ontem do jornal "Valor Econômico"
sobre a privatização da Infraero
causou um corre-corre no governo,
que tratou de desmenti-la.
Há dois motivos para tanta correria. Ou dois temores. Um de que o
PT lidere um movimento contra a
proposta, acuando um governo que
cansou de acusar o PSDB na campanha eleitoral de querer privatizar o
país inteiro. Outro de que o forte
corporativismo da Infraero entre
em ação e inviabilize os planos
governistas.
Há, além disso, divergências internas quanto ao que fazer com a
Infraero, uma daquelas estatais
cheia de dinheiro e vazia de fiscalização -um prato feito para desvios
de mil e uma naturezas, especialmente em épocas eleitorais.
Ao que se saiba, o ministro Nelson Jobim e o atual presidente da
Infraero, Sérgio Gaudenzi, defendem a abertura do capital da empresa, mas mantendo o controle estatal. Já a ministra Dilma Rousseff e
parte da área econômica veriam
com bons olhos um passo adiante,
com a privatização efetiva da
empresa.
Num ponto, porém, os dois lados
concordam: assim como está atualmente, a Infraero não é atrativa
nem para uma coisa nem para outra. Ou seja: antes de mais nada é
preciso reestruturar a empresa de
alto a baixo. E, aí, já há dúvidas sobre a permanência ou não de Gaudenzi. Seria o homem certo para isso? Há controvérsias no governo.
A Infraero tem em torno de R$ 2
bi de recursos neste ano e praticamente independe de Orçamento da
União, porque o grosso da receita
vem das taxas aeroportuárias que
nosotros pagamos a cada vôo. Mas
lhe falta patrimônio: os 67 aeroportos sob seu controle não são da empresa, são da União.
Deles, aliás, só dez dão lucro. São
o "filé". E, quando se fala em abrir
capital, privatizar, tornar a empresa
apetitosa, a pergunta que mais nos
interessa, a nós, usuários, é: e o "osso" (ou os 57), quem vai querer?
elianec@uol.com.br
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