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Boa sorte ao Fed
ANTONIO DELFIM NETTO
A economia americana comemorou
em fevereiro o seu 108º mês de crescimento consecutivo do PIB. Nos últimos quatro anos ela cresceu à incrível
(para o seu tamanho!) taxa de 4,2% ao
ano. Se considerarmos que o PIB brasileiro é da ordem de 9,5% do PIB
americano, verificaremos que, a cada
26 meses, o aumento da produção total de bens e serviços nos EUA tem sido equivalente a um PIB anual brasileiro.
A elevação das taxas de juros que o
Fed vem promovendo (tendo em vista
suas previsões) tem tido efeitos minúsculos e frequentemente acompanhados por fatos novos, contraditórios, que alteram profundamente as
"expectativas" do mercado. A maldição dos Bancos Centrais é que eles têm
de agir "olhando para a frente", fazendo previsões sobre o futuro que, por
definição, é opaco, mas só sabem o
que vêem pelo retrovisor, isto é, o que
"viram no passado". Alan Greenspan
olha no retrovisor e vê:
1) que o "exército de reserva" de trabalhadores, com variações aleatórias e
estacionais, aproxima-se de um limite
inferior. Em outras palavras, ele imagina que a economia está chegando
perto de uma taxa de desemprego
(hoje está em 4,1%) que poderá organizar mais agressivas reivindicações
salariais. Isso não parece muito provável porque os ganhos de produtividade têm permitido substanciais aumentos reais de salários desde 1994;
2) que os ganhos de produtividade,
ainda que derivados de progressos
tecnológicos combinados com novos
investimentos, principalmente no setor de telecomunicações e informática, continuam associados positivamente às variações do PIB, o que significa que uma redução do crescimento reduzirá, também, a taxa de expansão da produtividade;
3) que a variação da taxa de lucro das
empresas não financeiras continua
fortemente ligada às variações do PIB,
de forma que uma redução do crescimento deve levar a uma diminuição
dos investimentos e, provavelmente, a
um ajuste nas Bolsas;
4) que o déficit em conta corrente
continua ligado à expansão do PIB.
Não é fora de propósito esperar que
ele atinja 4,5% do PIB em 2000;
5) que ninguém sabe se há ou não
uma "bolha" na Bolsa americana, ainda que haja forte e plausível argumentação nos dois sentidos. A característica da "bolha" é que ela só é conhecida
quando explode;
6) que a missa de sétimo dia para a
Opep não funcionou e ela parece ter
ressuscitado, e
7) que ninguém sabe se existe ou não
a "nova economia" que explicaria benignamente todos esses fatos. Objetivamente, o que está crescendo é a "expectativa" de inflação extraída das taxas de juros de longo prazo dos papéis
do Tesouro americano com correção
monetária, que estiveram em 2% ao
longo de 1999.
Cada sinal desses é preocupante e alguns são contraditórios. A última coisa que o Fed deseja é precipitar uma
aterrissagem forçada da economia
americana, que teria o sabor de uma
catástrofe neste ano eleitoral. O que fazer? Como todo Banco Central que se
preza, aplicar a velha regra de Brainard: "Se você não sabe o que está fazendo, pelo amor de Deus, faça devagar", rezando para funcionar...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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