São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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AJUSTE INCOMPLETO

Alguns elementos tranqüilizadores e outros preocupantes se fizeram notar na divulgação das estatísticas do Banco Central referentes ao desempenho das contas externas do país no mês de março.
Pelo lado positivo, destacou-se o saldo recorde na conta de transações correntes, que retrata o intercâmbio de bens e serviços com o exterior. A grande contribuição para esse resultado adveio mais uma vez do superávit na balança comercial.
Embora esteja sendo favorecido por fatores como a timidez da demanda interna e a alta das cotações internacionais de diversas commodities que têm grande peso na pauta de exportações, a dimensão que o superávit comercial vem sustentando leva a crer que ele não seja um fenômeno conjuntural, mas, sim, reflexo de uma mudança de fôlego nas relações econômicas do país com o exterior.
Essa renovada constatação sugere que está afastado do horizonte imediato o espectro de uma crise de escassez de dólares como as que se repetiram entre o final de 1997 e o início de 2003.
Ainda assim, não se pode deixar de constatar que o esforço de ajuste das contas externas não chegou a conduzi-las a uma situação que possa ser considerada confortável. Dentre os aspectos desconfortáveis, quatro podem ser destacados.
Primeiro, a entrada de investimentos estrangeiros dirigidos ao setor produtivo perdeu dinamismo e continua muito abaixo do potencial -entre outras razões, por causa do crescimento baixo e incerto da economia nacional. Segundo, os ingressos de empréstimos externos no país continuam se mostrando muito voláteis: em março, apenas 51% das dívidas de médio e longo prazo que venceram foram renovadas. Terceiro, as reservas de divisas do BC, excluídos os recursos emprestados pelo FMI, ainda continuam muito aquém do nível que seria desejável.
Por fim, os indicadores de vulnerabilidade externa da economia brasileira (como as relações entre dívida externa e nível de reservas e entre dívida externa e exportações) permanecem claramente inferiores aos das demais economias emergentes.


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