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AULA DE VIOLÊNCIA
O problema da violência nas
escolas transcende a brutalidade cotidiana. Afinal, estabelecimentos de ensino são, por definição, o
espaço da formação de jovens. Um
eventual fracasso na transmissão de
hábitos civilizados nesse meio faz temer por uma sociedade mais belicosa no porvir. E, a julgar pelos resultados da pesquisa "Vitimização nas escolas", feita a pedido da Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura), há motivos para se preocupar com o futuro.
A questão nem está tanto nos números da violência. Seria absolutamente irrealista esperar que, numa
sociedade violenta como mostra-se a
brasileira, a paz reinasse nas escolas.
Assim, não chega a surpreender que
83,4% dos alunos da rede oficial de
cinco capitais e do Distrito Federal
entrevistados tenham declarado
existir violência em seu colégio. As
formas mais comuns são o furto e o
roubo. A diferença entre os dois delitos é que, no segundo, o criminoso
usa de violência ou grave ameaça
contra a pessoa para se apoderar de
um bem. De acordo com a sondagem, 69,4% dos estudantes já foram
vítimas de uma dessas modalidades.
O risco, como alerta a socióloga
Miriam Abramovay, coordenadora
da pesquisa, é a banalização da violência, isto é, situações como essa se
tornarem "normais". Muitas vezes, o
aluno se queixa do furto ou do roubo
ao professor ou ao diretor, mas sua
reclamação não produz conseqüências. Isso tende a reforçar a sensação
de vulnerabilidade dos estudantes e a
idéia nociva da impunidade.
A insegurança é reforçada por outro dado da pesquisa, que é a presença de armas em mãos de alunos. De
acordo com o estudo, 21,7% disseram já ter visto um estudante portando um canivete. Outros 12,1% testemunharam um colega com um revólver, e 13%, com uma faca.
A pesquisa indica que é preciso fazer mais para tornar a escola um lugar que valorize a civilização, o diálogo e a convivência pacífica, e não a
violência e a vantagem pessoal acima
de tudo. O que está em jogo é o futuro de uma geração.
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