São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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AULA DE VIOLÊNCIA

O problema da violência nas escolas transcende a brutalidade cotidiana. Afinal, estabelecimentos de ensino são, por definição, o espaço da formação de jovens. Um eventual fracasso na transmissão de hábitos civilizados nesse meio faz temer por uma sociedade mais belicosa no porvir. E, a julgar pelos resultados da pesquisa "Vitimização nas escolas", feita a pedido da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), há motivos para se preocupar com o futuro.
A questão nem está tanto nos números da violência. Seria absolutamente irrealista esperar que, numa sociedade violenta como mostra-se a brasileira, a paz reinasse nas escolas. Assim, não chega a surpreender que 83,4% dos alunos da rede oficial de cinco capitais e do Distrito Federal entrevistados tenham declarado existir violência em seu colégio. As formas mais comuns são o furto e o roubo. A diferença entre os dois delitos é que, no segundo, o criminoso usa de violência ou grave ameaça contra a pessoa para se apoderar de um bem. De acordo com a sondagem, 69,4% dos estudantes já foram vítimas de uma dessas modalidades.
O risco, como alerta a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora da pesquisa, é a banalização da violência, isto é, situações como essa se tornarem "normais". Muitas vezes, o aluno se queixa do furto ou do roubo ao professor ou ao diretor, mas sua reclamação não produz conseqüências. Isso tende a reforçar a sensação de vulnerabilidade dos estudantes e a idéia nociva da impunidade.
A insegurança é reforçada por outro dado da pesquisa, que é a presença de armas em mãos de alunos. De acordo com o estudo, 21,7% disseram já ter visto um estudante portando um canivete. Outros 12,1% testemunharam um colega com um revólver, e 13%, com uma faca.
A pesquisa indica que é preciso fazer mais para tornar a escola um lugar que valorize a civilização, o diálogo e a convivência pacífica, e não a violência e a vantagem pessoal acima de tudo. O que está em jogo é o futuro de uma geração.


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