São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Diretas
"Na entrevista "Sempre fui a favor da eleição direta", diz general" (Brasil, 25/4), o repórter foi inteiramente fiel ao que lhe transmiti por telefone. Considerando, porém, as discordâncias entre os dados que introduziram a reportagem e as declarações que prestei, em resguardo da verdade histórica, acrescento algumas informações. 1) Em relação à repressão a um buzinaço pró-diretas, à prisão de manifestantes e à apreensão de carros, informo que se tratava de uma carreata que estava prestes a iniciar-se ao lado do quartel-general do Comando Militar do Planalto, atitude legalmente proibida. Os automóveis ocupavam, em largura e em profundidade, a via pública da Esplanada dos Ministérios, desde o quartel-general até o Congresso. Seus ocupantes vinham de uma manifestação na parte externa do Congresso. Todos os faróis estavam acesos (já era noite) e as buzinas eram estridentemente acionadas. Impedi a partida da carreata mandando o comandante da guarda colocar um ônibus na frente dos automóveis. A pé, desarmado, munido apenas do bastão de comando, que constitui peça do uniforme dos generais, percorri toda a extensão da carreata, admoestando um e outro motorista. As buzinas progressivamente silenciaram e os faróis se apagaram. Mandei liberar os veículos, um a um. Não fiz uma única prisão. 2) Segundo a historiadora Maria Celina d'Araújo, eu teria chicoteado os carros do buzinaço. Tal historiadora, pelo que dela conheço, em sã consciência jamais abonaria uma inverdade. Teria, porém, propagado uma versão falsa de um fato histórico. Houve quem me visse, montado a cavalo, chicotear os automóveis... E o fato tornou-se uma "mentira de pernas longas". Até mesmo a falsa testemunha do "caso Baumgarten", Claudio Werner Polila, na sessão de julgamento em 30/6/ 1992, afirmou que nunca dissera antes ter-me visto em Brasília, montado num cavalo branco, chicoteando os automóveis durante as medidas de emergência. 3) Reafirmo: somente duas vezes me expus publicamente, em Brasília, montado a cavalo: ao comandar as paradas de Sete de Setembro em 1983 e em 1984. A fotografia publicada na Folha com o título "Desfile" corresponde a uma inspeção à tropa no pátio interno do Batalhão da Guarda Presidencial."
Newton Araújo de Oliveira e Cruz, general-de-divisão reformado (Rio de Janeiro, RJ)

Comissão
"Sobre a reportagem "Advogado deixa comissão frustrado" (Brasil, pág. A6, 27/ 4), gostaria de esclarecer dois pontos. 1. Como afirmei ao repórter, deixarei a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos por motivo pessoal, e não pela "falta de vontade política do governo Luiz Inácio Lula da Silva para localizar os corpos dos desaparecidos". 2. A Comissão Especial foi instituída pela lei 9.140/95, tem papel institucional a cumprir e é, por natureza, independente de governos. O fato de determinadas autoridades persistirem na atitude estrábica de negar informações necessárias à realização de nosso trabalho e a visível falta de vontade política do governo Lula não seriam motivo para a minha saída."
Luís Francisco Carvalho Filho (São Paulo, SP)

Nota da Redação - Leia abaixo a seção "Erramos".

Ordem constitucional
"Diante do bombardeio de notícias e comentários superficiais que circulam na mídia, é natural que, num primeiro momento, assumamos uma posição crítica em desfavor dos sem-terra. Difícil, contudo, é manter indelével esse posicionamento depois da leitura do artigo de ontem do professor Fábio Konder Comparato ("Quem fomenta a desordem?", "Tendências/Debates'). Argumentar, como muitos farão, que uma violação da ordem constitucional -ainda que feita pelo poder público- não justifica outra, cometida pelos sem-terra, é simplório. É argumento de quem está bem instalado materialmente. A questão com a qual o mestre Comparato encerra seu belo artigo conduz a reflexões um pouco mais profundas, como: onde estão as autoridades públicas responsáveis pela preservação da ordem constitucional do país? Por que essas mesmas autoridades só se demovem dos seus confortáveis gabinetes para, perante os holofotes da mídia, enxovalhar os sem-terra ou, quando muito, verbalizar inutilmente críticas ao governo? O que de concreto essas impolutas figuras fazem para a preservação e para a manutenção do chamado Estado democrático de Direito? É realmente muito difícil continuar apenas condenando a ação desses miseráveis."
Paulo Velten (São Paulo, SP)

Celibato
"O problema do envolvimento afetivo de padres não se resolve permitindo o casamento, mas investindo na formação dos padres. Em 1960, houve a famosa crise dos seminários, quando era questionado o modelo antigo, muito rígido e severo na questão moral e na preparação intelectual e religiosa. O novo modelo, surgido na década de 80, tem se demonstrado falho. Feitas honrosas exceções, os novos seminários proporcionam aos candidatos uma formação intelectual muito deficiente, uma preparação moral inconsistente e nenhuma formação religiosa. É muito difícil ver, hoje, um padre que reza, que medita, que se recolhe para aumentar o seu cabedal de fé. Como, no Brasil, há uma grande carência de padres, os bispos facilitam muito a seleção dos candidatos. Por isso o quadro é esse. Geralmente a necessidade é uma má conselheira."
Giovanni Pelella (São Luís, MA)

Folha
"Ao contrário do leitor Bernardo Furrer ("Painel do Leitor", 26/4), que irá cancelar sua assinatura da Folha devido às críticas ao governo Lula, pretendo renovar a minha, pois a Folha está sendo um dos poucos veículos de comunicação do país a mostrarem a realidade do governo, ou melhor dizendo, a fantasia do governo, pois, se este governo tivesse algo de real, nós não estaríamos nesta situação."
Elisabete Gervilla (Jundiaí, SP)

Guerras
"Com o grotesco argumento de que era para "abreviar" o curso da guerra, os americanos lançaram bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Parece que desde então nada mudou na formação desumana e criminosa dos dirigentes daquele país. Os ataques contra Fallujah e Najaf são a versão moderna daqueles ataques. A mensagem é clara: rendam-se ou sofram a ação do "mais poderoso e invencível" Exército deste pobre planeta Terra. Muito bem. Muitos de nós não vivíamos em 1945, mas, hoje, vamos ficar indiferentes a essa monstruosidade, limitando-nos a singelamente ler as manchetes de primeiras páginas?"
João Carlos Macluf (São Paulo, SP)

Lucidez
"Nunca tinha lido um texto do senhor Jorge Boaventura. Ao ler o artigo "Pervertidos e cruéis" (Tendências/Debates", pág. A3, 27/4), sua lucidez e clareza, somadas à experiência de seus 80 anos, deixaram-me feliz. Muita gente "jovem" já perdeu a capacidade de indignar-se, coisa que o colunista não perdeu. Parabéns! Quanta juventude vi nesse homem sábio."
Demétrio Antonio Zacharias (São Paulo, SP)

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