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RUY CASTRO
Liberty Ovais
RIO DE JANEIRO - O Tribunal de
Justiça do Rio autorizou a realização de uma marcha da maconha em
Ipanema, no próximo dia 9. Em nome da liberdade de expressão, fez
bem. Não tem sentido proibir que
os adeptos da maconha façam uma
passeata exigindo sua liberação
quando as pessoas já a fumam às
claras, na praia, na esquina e em
qualquer lugar.
Mesmo porque, se for como as
anteriores, a marcha não deverá
passar de 200 ou 300 gatos pingados, que são os militantes da liberação -pessoas sinceramente convencidas de que, com a maconha legalizada, os traficantes perderão a
razão de ser e terão de se dedicar a
vender pentes na Rua Larga ou
churrasquinho na Central do Brasil. Não se cogita que, com a erva na
legalidade, eles se concentrarão nos
outros itens que já oferecem: ácido,
cocaína e crack.
Seja como for, a marcha da maconha, por mais insignificante, será
um tópico do noticiário, antes, durante e depois da sua realização. É
um evento confortável: dar-se-á
num sábado de manhã, a tempo de
pegar os jornais de domingo, e
atrairá uma galera exótica e colorida, garantindo boas fotos. E será em
Ipanema, onde já há uma tolerância
natural pelo produto. Pena que seus
organizadores não a programassem
para a Maré ou o Alemão.
O que me pergunto é como seria
se 200 ou 300 incautos resolvessem
fazer uma marcha a favor do cigarro
comercial. Aposto que levariam todo o trajeto sendo ofendidos pelos
antitabagistas -se chegassem a fazer a passeata, já que passariam a
semana anterior sendo atacados
em artigos e cartas para o jornal.
Os inimigos do cigarro devem
achar que maconha é um negócio
para passar na pele ou beber de canudinho -e não para acender,
queimar e engolir fumaça, exatamente como o Marlboro, o Hollywood ou o antigo Liberty Ovais.
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