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Fronteira desguarnecida
Apenas seis dias atrás assinalou-se, neste espaço, o risco representado por um corte indiscriminado na fiscalização de fronteiras
provida pela Polícia Federal.
A medida, se executada de maneira pouco inteligente, poderia
tornar ainda mais fácil do que já é
o contrabando de armas através
dos mais de 16 mil quilômetros de
fronteira do Brasil.
Pois a edição de ontem da Folha apresentou, em reportagem
de Graciliano Rocha, um exemplo
eloquente da precariedade do
controle fronteiriço, que contribui
para inundar o país com as ferramentas básicas da criminalidade
-armamento e munição.
O repórter deslocou-se até Ciudad del Este, no Paraguai, adquiriu lá um revólver calibre 38 e
uma caixa de projéteis e voltou a
Foz do Iguaçu (PR). Já em território brasileiro, recebeu arma e munição no hotel, entregues por um
motoboy. A mercadoria, que pela
lei paraguaia só poderia ser vendida para residentes, foi em seguida depositada na sede da PF.
Não se trata de episódio isolado
nem de menor importância. A
chamada Tríplice Fronteira, que
inclui ainda a localidade argentina de Puerto Iguazú, é ponto conhecido do crime organizado, um
entreposto de drogas, armas e
contrabando em geral. A ponte da
Amizade, em Foz, deveria estar
entre os postos de fronteira mais
controlados, mas no dia da entrega da arma era guarnecida por
meia dúzia de agentes policiais.
O ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, anuncia que
não haverá redução de atividades
da PF em decorrência de cortes
orçamentários. Reconhece que as
fronteiras são vulneráveis e aposta numa união de forças de segurança federais, estaduais e locais
para tentar diminuir a deficiência.
Ontem mesmo lançou o primeiro
Gabinete de Gestão Integrada de
Fronteira (GGI-F), precisamente
em Foz do Iguaçu.
Além de coordenação policial,
o governo investe em tecnologia,
como aviões de vigilância sem pilotos, projeto que deve receber R$
540 milhões. O primeiro Vant
(Veículo Aéreo Não Tripulado),
uma promessa de campanha de
Dilma Rousseff, chegou de Israel
em março, mas ainda não voou
-problemas burocráticos impedem a compra de gasolina.
Assim avança (ou regride) o
controle das fronteiras nacionais.
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