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São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2003

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LOBOS E FALCÕES

O secretário de Defesa dos EUA, o "falcão" Donald Rumsfeld, admitiu que Saddam Hussein poderia não possuir armas de destruição em massa, ao contrário do que alegavam Washington e Londres. Depois de buscas exaustivas, o secretário considerou possível que o Iraque tenha destruído arsenais químicos e biológicos antes da guerra, como exigia a ONU. Cairia por terra, assim, o principal argumento que o presidente George W. Bush e o premiê Tony Blair usaram para tentar justificar o conflito.
Grande parte da opinião pública mundial não se deixou convencer, mas muitos americanos, enredados numa ostensiva campanha bélica capitaneada pelos principais grupos de mídia do país, estavam convictos de que a indústria iraquiana se dedicava a fabricar clandestinamente germes e venenos mortais.
EUA e Reino Unido não hesitaram nem mesmo em utilizar-se de falsificações grosseiras para estabelecer a enorme ameaça iraquiana. Exibiram como provas da periculosidade do regime de Saddam Hussein papéis forjados e até um trabalho escolar produzido dez anos antes.
Para descrever o que considerava ser o estado natural da humanidade, o filósofo político Thomas Hobbes empregou o velho adágio latino "homo homini lupus" (o homem é o lobo do homem). Se aplicarmos a mesma idéia ao plano supranacional, concluiremos que a chamada comunidade internacional é uma alcatéia de interesses na qual países por vezes se voltam contra outros países para devorá-los.
No caso iraquiano, os EUA agiram como o lobo da fábula de Esopo. Ainda que Saddam Hussein não fosse exatamente um cordeiro, ele foi devorado com base na lei do mais forte, para a qual justificativas e Direito são detalhes incômodos destinados ao esquecimento.


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