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FERNANDO GABEIRA
As águas do futuro
SÃO LUÍS - Deixo a capital do Maranhão rumo ao vale do Mearim.
Ficam para trás os bairros grã-finos: Ponta da Areia, Calhau. Há um
visível crescimento imobiliário.
Um novo prédio, chamado Two Towers, tem cerca de mil metros quadrados por apartamento, que custa
R$ 3 milhões. Dizem que foram todos vendidos na planta.
A BR-135 não engana. Há buracos
e desvios, o calor úmido nos lembra
a transição para a Amazônia e o resiliente babaçu domina a paisagem
de casas modestas. Levamos quase
cinco horas nessa viagem. Faltava
água potável, cheirava mal em alguns lugares, havia lixo acumulado
e temia-se pela saúde dos desabrigados pela chuva.
De todos os problemas imediatos, além da falta de água potável,
creio que o desabrigo seja o mais sério. Na última enchente projetaram-se 1.167 casas. Nenhuma foi
construída. Quem garante que será
melhor agora? As chuvas colheram
o governo em plena mudança. O
Maranhão tinha mais de um R$ 1
bilhão em caixa, as reservas caíram
para R$ 314 milhões.
Em Santa Catarina, onde as doações espontâneas foram de R$ 35
milhões, as coisas não andaram como se queria. No Maranhão, onde
não se alcançou ainda a marca dos
R$ 100 mil, devemos a deixar a esperança no caminho?
Com todas as dificuldades imediatas, há um instrumento para o
futuro: o comitê de bacia. Ele poderá fazer planos, atrair recursos, sanear, enfim ser mais governo.
Exemplo: a barragem do rio das
Flores, afluente do Mearim, não
abre suas comportas há anos. É
controlada por um grupo particular. E não se chega lá, em Joselândia, a não ser de helicóptero. No
mês que vem, chegaremos. No Maranhão, é preciso ser resistente como o babaçu, que só morre com doses cavalares de veneno. E não recebe Bolsa Família.
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