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ONDE FALTA ESTADO
O mercado financeiro global
foi abalado por novos escândalos nesta semana com a revelação
de fraudes contábeis na empresa de
telefonia de longa distância WorldCom (dona da Embratel), capaz de
levá-la à falência, e na Xerox.
Mas é necessário lembrar que essa
mais recente má notícia explodiu em
meio a um período de turbulência
nos mercados, de queda contínua do
dólar norte-americano em relação ao
euro e ao iene e de dúvidas crescentes
sobre a recuperação da economia
norte-americana, para não falar da
certeza de que as duas outras potenciais locomotivas do planeta (a UE e
o Japão) continuam cambaleando.
Em boa medida, a turbulência nos
mercados começou quando se descobriu fraude parecida na Enron, gigante energética norte-americana.
De repente, os investidores passaram
a desconfiar que o caso Enron era
apenas a ponta de um iceberg e que,
portanto, outras fraudes surgiriam
mais à frente. A WorldCom e, logo
depois, a Xerox, são as comprovações dos piores temores. A SEC, órgão regulador do mercado de capitais norte-americano, já ordenou a
cerca de mil empresas que demonstrem a veracidade de seus balanços e
informações financeiras.
Mas é também a comprovação de
que o fenômeno mais marcante dos
anos 90 na economia mundial, representado pela aversão visceral ao
Estado, precisa ser reexaminado, sob
pena de a volatilidade econômica
persistir ou até se agravar.
Se é verdade que o Estado é péssimo produtor de aço, inviável gerente
de hotéis, mau dono de companhias
aéreas, não é menos verdade que é
insubstituível como regulador das
atividades econômicas.
Rejeitar o Estado-empresário é saudável. Rejeitar a regulação estatal é
totalmente diferente, como se vê
agora, não só pelos casos Enron,
WorldCom e Xerox, mas também
pelo vendaval que açoita a América
Latina e outros mercados emergentes. Essa constatação, aliás, nem é
nova. Em seu período, Bill Clinton
chegou a cunhar a expressão reforma da arquitetura do sistema financeiro internacional exatamente para
designar a necessidade de impor regras que controlassem a excessiva
volatilidade nos fluxos de capitais.
Até se deram alguns passos nessa
direção, mas insuficientes. É hora de
retomar o esforço. A omissão será
um prêmio à especulação, com a
correspondente punição aos setores
produtivos e às sociedades.
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