São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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ONDE FALTA ESTADO

O mercado financeiro global foi abalado por novos escândalos nesta semana com a revelação de fraudes contábeis na empresa de telefonia de longa distância WorldCom (dona da Embratel), capaz de levá-la à falência, e na Xerox.
Mas é necessário lembrar que essa mais recente má notícia explodiu em meio a um período de turbulência nos mercados, de queda contínua do dólar norte-americano em relação ao euro e ao iene e de dúvidas crescentes sobre a recuperação da economia norte-americana, para não falar da certeza de que as duas outras potenciais locomotivas do planeta (a UE e o Japão) continuam cambaleando.
Em boa medida, a turbulência nos mercados começou quando se descobriu fraude parecida na Enron, gigante energética norte-americana. De repente, os investidores passaram a desconfiar que o caso Enron era apenas a ponta de um iceberg e que, portanto, outras fraudes surgiriam mais à frente. A WorldCom e, logo depois, a Xerox, são as comprovações dos piores temores. A SEC, órgão regulador do mercado de capitais norte-americano, já ordenou a cerca de mil empresas que demonstrem a veracidade de seus balanços e informações financeiras.
Mas é também a comprovação de que o fenômeno mais marcante dos anos 90 na economia mundial, representado pela aversão visceral ao Estado, precisa ser reexaminado, sob pena de a volatilidade econômica persistir ou até se agravar.
Se é verdade que o Estado é péssimo produtor de aço, inviável gerente de hotéis, mau dono de companhias aéreas, não é menos verdade que é insubstituível como regulador das atividades econômicas.
Rejeitar o Estado-empresário é saudável. Rejeitar a regulação estatal é totalmente diferente, como se vê agora, não só pelos casos Enron, WorldCom e Xerox, mas também pelo vendaval que açoita a América Latina e outros mercados emergentes. Essa constatação, aliás, nem é nova. Em seu período, Bill Clinton chegou a cunhar a expressão reforma da arquitetura do sistema financeiro internacional exatamente para designar a necessidade de impor regras que controlassem a excessiva volatilidade nos fluxos de capitais.
Até se deram alguns passos nessa direção, mas insuficientes. É hora de retomar o esforço. A omissão será um prêmio à especulação, com a correspondente punição aos setores produtivos e às sociedades.



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