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MARÉ CONSERVADORA
O que ocorre nos Estados Unidos tem quase sempre interesse para os cidadãos de outros países.
Até pequenos episódios sinalizam
sintomas que convém ver de perto,
ainda que para identificar alguma dimensão política. É o caso de duas decisões relativas ao sistema educacional, tomadas nesta semana pela Suprema Corte.
A primeira delas autoriza as escolas, por meio de exames aleatórios, a
identificar o consumo de drogas entre alunos que praticam alguma atividade extracurricular, como teatro. A
segunda autoriza escolas mantidas
por grupos religiosos a receber subvenções dos cofres públicos.
Os dois problemas têm como ponto de ligação uma tentativa de interferência do Estado na constituição de
padrões morais. Com relação ao financiamento de estabelecimentos
religiosos, pode-se estar rompendo
com uma regra velha de dois séculos
e que prevê a nítida separação de
igreja e Estado. E isso quando, segundo os próprios educadores, por
falta de dinheiro o padrão de ensino
das escolas públicas vem caindo.
O sistema escolar norte-americano
foi na década passada o laboratório
da ação de grupos religiosos altamente conservadores. Eles tentaram
substituir nos currículos a teoria da
evolução das espécies (de Charles
Darwin) pelo criacionismo (Adão e
Eva) relatado pela Bíblia.
Foram casos isolados, mas que,
mesmo assim, indicaram uma maré
de fanatismo religioso que tende a
afastar o Estado de seu esforço de se
manter separado das religiões. Segundo esse pensamento, combater o
terrorismo não é só defender os cidadãos contra os crimes do radicalismo político. É também combater "o
mal". O que permite reiterar que não
há nada de mais parecido ao radicalismo islâmico do que o radicalismo
religioso nos Estados Unidos.
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