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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A dramática busca por um emprego
Numa hora em que o Brasil precisa melhorar a qualidade da
educação, é triste ver uma pessoa formada em pedagogia buscando um
emprego de gari no Rio de Janeiro,
numa fila onde, na segunda-feira passada, se acotovelaram 30 mil pessoas,
no meio de um grande tumulto.
Como a professora, estavam na fila
advogados, médicos, fisioterapeutas,
contadores e vários outros profissionais frustrados por viverem em um
país que lhes permitiu estudar, mas
não lhes permite trabalhar.
É um absurdo! Os brasileiros estão
desesperados. Todos querem emprego. A fila de 30 mil pessoas é uma prova disso. Trata-se de um povo ordeiro,
que deseja construir sua vida com base no trabalho decente, e não com base em esmolas.
Gari é uma profissão decente. O salário é baixo -é verdade-, mas é o
que sobrou (em pequena escala). As
pessoas não aguentam mais ficar desempregadas. O tumulto surgiu devido ao excesso de candidatos, muitos
dos quais entraram na fila na sexta-feira à noite para serem atendidos na
segunda de manhã e foram mandados
para casa porque não conseguiram
comprovar que tinham completado a
quarta série do primeiro grau.
Contra essa gente, uns mais educados, outros menos educados, as autoridades usaram granadas de gás lacrimogêneo, mobilizaram o Grupamento de Ações Táticas do Primeiro Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro e até o Grupamento Tático de Motocicletas, todos eles empenhados em
"espantar" os presentes, que nada
mais queriam do que trabalhar. Sim,
trabalhar. Simplesmente trabalhar!
Esse é o tratamento que a nossa sociedade resolveu dispensar aos desempregados. Os relatos foram dramáticos. Há quem esteja há dois anos
sem emprego e, por isso, sonhe em
poder se manter na Cidade Maravilhosa ganhando R$ 280 por mês.
Sinceramente, não esperava chegar
aos 75 anos de idade e aos 50 de trabalho para ver isso acontecer com os
meus semelhantes em um país tão rico, tão cobiçado e tão maltratado.
Chegamos a um limite -o limite da
vergonha. É vergonhoso ver 30 mil
pessoas apanharem numa fila porque
querem trabalhar e uma professora
disposta a varrer as ruas porque não
há lugar para ela na sala de aula.
Isso me entristece. Entristece muito.
Alguma coisa tem de ser feita -e com
urgência. Chego até a cogitar das frentes de trabalho, contra as quais sempre me opus por serem paliativas. Não
seriam elas melhores do que a mendicância ou o crime?
O Brasil tem tudo para empregar seu
povo. Basta olhar para a potencialidade da nossa agricultura, do turismo,
da infra-estrutura, da educação, da
saúde e tantas outras áreas carentes e
necessitadas da contribuição humana.
Temos de dar um basta na especulação e fazer este país voltar-se de corpo
e alma para a produção e para o emprego -as principais prioridades da
nação.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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