SÃO PAULO - O Brasil venceu ontem com folga e certa facilidade. Sobrou sem brilhar. Parece, sim, ter evoluído. Um pouco, talvez, em função da substituição que Dunga foi forçado a fazer. Com Ramires, o time fica mais leve, mais rápido e certamente menos estúpido.
O rival, de qualquer forma, não autoriza conclusões sobre o futuro glorioso ou a ruína do dunguismo. O Chile, digamos logo, é "o tipo de time que não joga e deixa jogar".
O fato é que até sexta já somos um dos candidatos ao título. Pode ser, mas, por ora, quem mais encanta as plateias é a Alemanha. São eles, os alemães, se isso não parecer um contrassenso, que vêm praticando o "Lausbubefussball" -algo como o que chamamos por aqui de "futebol moleque".
Sim, é uma ironia, mas com base na realidade. A futebolização do mundo homogeneizou o jogo e reduziu substantivamente o espaço para os improvisos. A ponto de fazer com que uma seleção jovem, muito disciplinada taticamente e de bom nível técnico, como a alemã, converta sua força e eficiência permanentes em momentos de grande beleza plástica. Digamos assim: os alemães são os artistas de um futebol desencantado.
O duelo entre a Alemanha, versão reciclada (e pior) da laranja mecânica holandesa de 1974, e o time estelar da Argentina de Messi e Maradona promete pôr frente a frente o que há de melhor em termos individuais e coletivos na Copa.
Copa, de resto, que já é da jabulani e da vuvuzela, como disse José Miguel Wisnik. Se a bola, lisa e traiçoeira, representa o futebol globalizado, a vuvuzela evoca as culturas ancestrais da África tribal.
Em alemão, "vuvuzela" se pronuncia "fufutzela" -o que aproxima, pelo som, o zunido da corneta do mundo da bola ("fufu" soa bem demais). Tudo isso provavelmente não quer dizer nada. Pois, como lembra aquele filósofo alemão: "Fussball ist ein Überraschungskistchen". Tradução: "o futebol é uma caixinha de surpresas".


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