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CARLOS HEITOR CONY
Vidros e vidraças
RIO DE JANEIRO - Em um de seus
filmes mais populares, Carlitos é vidraceiro e adota um menino de rua.
Saem os dois para trabalhar, o garoto quebra o vidro de uma janela e
foge, Carlitos aparece como por
acaso, o dono da casa o chama,
combinam o serviço, e o dia está ganho. Na hora do almoço, tanto o vidraceiro como o seu ajudante têm o
que comer.
Lembro a cena porque estou começando a desconfiar da frequência com que os vírus eletrônicos estão fazendo estragos entre os usuários da internet.
Por acaso ou não, justamente em
épocas festivas, quando todos se
comunicam com mais intensidade,
os vírus invadem nossas telinhas,
bloqueando-as e obrigando-nos a
chamar técnicos e curiosos para
reinstalar programas cada vez mais
complicados.
Um simples consumidor de e-mails não saberia produzir um vírus e infectar o equipamento de
seus correspondentes virtuais. Os
vírus têm uma hierarquia. Uns são
mais devastadores, outros, mais difíceis de serem neutralizados.
Se quisesse sacanear alguém eletronicamente, não saberia criar um
vírus. É possível que tenha transmitido sem saber esses micróbios de
tratamento especializado.
Acredito que eles sejam produzidos por gente que domina a linguagem e o tipo de correio sofisticado
que é a internet. E que muitos desses maníacos virtuais se ofereçam
para excluir o câncer eletrônico, a
metástase que pode destruir definitivamente nossos computadores.
Um entendido fabrica um vírus e
o espalha entre conhecidos. Espera
o telefonema pedindo ajuda. Cobra
a visita e a instalação dos novos
programas.
Como nos livrar dessa indústria
artesanal? É evidente que não será
colocando a polícia no meio. Mas
apelando para o desenvolvimento
tecnológico, que criará vacinas e
tratamentos contra a peste que nos
ameaça.
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