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ELIANE CANTANHÊDE
Herança bendita
BRASÍLIA - Lula reclamava da
"herança maldita", mas aprofundou a política econômica e o Bolsa
Família e não pára de acolher no
seu governo os herdeiros de FHC. O
mais recente e mais lustroso deles é
Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça do tucano, agora ministro da
Defesa do petista.
Para não deixar dúvidas sobre os
vínculos de Jobim com os tucanos,
particularmente com o governador
de São Paulo: ao aceitar o convite de
Lula, correu para avisar José Serra;
na primeira entrevista, referiu-se a
ele como "um grande ministro da
Saúde"; na segunda, riu ao falar de
"um amigo" que tem tanto medo de
avião que agarra a mão de quem está ao lado. E adivinha onde o novo
ministro foi se meter no primeiro
dia de trabalho? Numa reunião com
Serra em São Paulo. E no segundo
dia? Num almoço com Serra.
Se não fosse Jobim, Lula teria de
transferir Paulo Bernardo do Planejamento para a Defesa, a contragosto e num típico caso de cobertor
curto. PB é um dos pouco petistas
puro-sangue remanescentes no governo, ao lado de Guido Mantega,
Tarso Genro e Luiz Dulci. Se um deles cair ou cansar, vai ser difícil
substituir com "companheiros".
Marta foi empurrada para o Turismo, e os quadros de primeiro time do PT parecem ter se esgotado
com a renúncia de Dirceu, os processos contra Palocci e a eleição de
Jaques Wagner e Marcelo Déda para governos estaduais.
Henrique Meirelles (BC) era tucano, Dilma Rousseff (Casa Civil)
era do PDT até outro dia, Temporão
(Saúde), Geddel (Integração), Jucá
(Previdência) e Stephanes (Agricultura) são do PMDB ou ligados a ele,
os três últimos notórios fernandistas. E o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, tinha gabinete
no Planalto na era FHC.
Que se cuidem Malan, Armínio e
Pedro Parente. Com os sacolejos
nas Bolsas e no dólar por causa do
tranco americano, eles acabam sendo convocados por Lula.
elianec@uol.com.br
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