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EM RECESSÃO
Embora prevista, a confirmação
de que a economia se encontra
em recessão reitera a gravidade dos
danos causados pelo aperto monetário e a lentidão com que o Banco
Central tem tratado de desarmar o
quadro de restrições. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), o PIB (Produto Interno
Bruto) caiu 1,6% no segundo trimestre em comparação com os três meses anteriores. Cotejado com o desempenho do mesmo período do
ano passado, o PIB recuou 1,4%.
Houve retração em todos os setores
produtivos em relação ao primeiro
trimestre. Na indústria, o declínio foi
de 3,7%. Nos serviços e na agropecuária, as reduções foram de 0,3% e
1,2%. Na comparação ano a ano,
apenas a agropecuária melhorou,
com crescimento de 3,2%. Os serviços permaneceram estáveis, e a indústria teve contração de 3,6%.
Particularmente preocupante foi o
resultado da chamada "formação
bruta de capital fixo", indicador do
nível de investimento: encolheu
6,4% em relação aos três primeiros
meses do ano. A taxa de investimento poderá fechar 2003 em torno de
17% do PIB, uma das mais baixas da
história, o que reforça as apreensões
quanto à possibilidade de uma retomada mais consistente e sustentável
do crescimento econômico.
Certamente o Banco Central já esperava resultado semelhante quando, na última reunião do Copom, decidiu cortar 2,5 pontos percentuais
na taxa Selic, medida que surpreendeu parte do mercado. Na ata do encontro do Copom, divulgada ontem,
o BC trata de fantasiar os efeitos do
arrocho monetário afirmando que a
economia não se encontraria "num
quadro propriamente recessivo". O
parecer baseia-se na constatação de
que a desaceleração não é generalizada. A tábua de salvação para essa
análise seriam os dados relativos às
exportações e ao setor agrícola. No
entanto, por mais que se pretenda
dourar a pílula e mesmo considerando que o ano não deverá ser concluído com queda do PIB, o que se constatou no último trimestre foi uma situação clássica de recessão.
Na ata, o Copom diz esperar recuperação próxima, acreditando que "a
atividade econômica, particularmente no último trimestre de 2003, deverá se beneficiar dos efeitos dos cortes
na taxa de juros básica". Com isso,
sugere que as péssimas notícias trazidas pelo IBGE representem o fundo do poço, podendo-se esperar melhorias para breve.
De fato, há tímidos sinais de recuperação no horizonte, fazendo crer
que se poderá verificar nos próximos
meses o início de algum aquecimento econômico. A evolução do quadro, contudo, ainda dependerá de
uma série de fatores, a começar pela
política de juros e pela capacidade de
a economia vir a atrair e gerar novos
investimentos.
É preciso que o BC não frustre as
expectativas quanto à queda da Selic.
As taxas cobradas no mercado a empresas e consumidores continuam
elevadíssimas, com os "spreads" em
patamares inaceitáveis. Paralelamente, cabe ao governo, que até aqui se
contrapôs ao aperto monetário apenas com retórica, balões-de-ensaio e
medidas paliativas, começar a apresentar e implementar suas políticas
industriais e o esperado plano de investimentos para os próximos anos.
Que não seja, como é habitual nesses
casos, apenas mais uma inútil peça
de ficção econômica.
Vive-se, portanto, um período que
sugere transição entre uma fase de
paralisia e outra de possível retomada da atividade econômica. Dados
contraditórios deverão conviver proximamente. Esperemos que os positivos possam tornar-se mais frequentes que os negativos.
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