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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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EM RECESSÃO

Embora prevista, a confirmação de que a economia se encontra em recessão reitera a gravidade dos danos causados pelo aperto monetário e a lentidão com que o Banco Central tem tratado de desarmar o quadro de restrições. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 1,6% no segundo trimestre em comparação com os três meses anteriores. Cotejado com o desempenho do mesmo período do ano passado, o PIB recuou 1,4%.
Houve retração em todos os setores produtivos em relação ao primeiro trimestre. Na indústria, o declínio foi de 3,7%. Nos serviços e na agropecuária, as reduções foram de 0,3% e 1,2%. Na comparação ano a ano, apenas a agropecuária melhorou, com crescimento de 3,2%. Os serviços permaneceram estáveis, e a indústria teve contração de 3,6%.
Particularmente preocupante foi o resultado da chamada "formação bruta de capital fixo", indicador do nível de investimento: encolheu 6,4% em relação aos três primeiros meses do ano. A taxa de investimento poderá fechar 2003 em torno de 17% do PIB, uma das mais baixas da história, o que reforça as apreensões quanto à possibilidade de uma retomada mais consistente e sustentável do crescimento econômico.
Certamente o Banco Central já esperava resultado semelhante quando, na última reunião do Copom, decidiu cortar 2,5 pontos percentuais na taxa Selic, medida que surpreendeu parte do mercado. Na ata do encontro do Copom, divulgada ontem, o BC trata de fantasiar os efeitos do arrocho monetário afirmando que a economia não se encontraria "num quadro propriamente recessivo". O parecer baseia-se na constatação de que a desaceleração não é generalizada. A tábua de salvação para essa análise seriam os dados relativos às exportações e ao setor agrícola. No entanto, por mais que se pretenda dourar a pílula e mesmo considerando que o ano não deverá ser concluído com queda do PIB, o que se constatou no último trimestre foi uma situação clássica de recessão.
Na ata, o Copom diz esperar recuperação próxima, acreditando que "a atividade econômica, particularmente no último trimestre de 2003, deverá se beneficiar dos efeitos dos cortes na taxa de juros básica". Com isso, sugere que as péssimas notícias trazidas pelo IBGE representem o fundo do poço, podendo-se esperar melhorias para breve.
De fato, há tímidos sinais de recuperação no horizonte, fazendo crer que se poderá verificar nos próximos meses o início de algum aquecimento econômico. A evolução do quadro, contudo, ainda dependerá de uma série de fatores, a começar pela política de juros e pela capacidade de a economia vir a atrair e gerar novos investimentos.
É preciso que o BC não frustre as expectativas quanto à queda da Selic. As taxas cobradas no mercado a empresas e consumidores continuam elevadíssimas, com os "spreads" em patamares inaceitáveis. Paralelamente, cabe ao governo, que até aqui se contrapôs ao aperto monetário apenas com retórica, balões-de-ensaio e medidas paliativas, começar a apresentar e implementar suas políticas industriais e o esperado plano de investimentos para os próximos anos. Que não seja, como é habitual nesses casos, apenas mais uma inútil peça de ficção econômica.
Vive-se, portanto, um período que sugere transição entre uma fase de paralisia e outra de possível retomada da atividade econômica. Dados contraditórios deverão conviver proximamente. Esperemos que os positivos possam tornar-se mais frequentes que os negativos.


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