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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

De talentos e saudades

SÃO PAULO - Fiquei "zapeando" anteontem entre a TV Globo (Cruzeiro x São Caetano) e a TV espanhola (Real Madrid x Real Mallorca).
Acabou sendo um penoso ajuda-memória sobre a degradação do Brasil nas décadas mais recentes.
O jogo de Minas, embora estivesse em campo o time que está sendo considerado o melhor do país, foi chato, arrastado, medíocre.
O jogo de Madri foi efervescente, muito mais do que indica o marcador (3 a 0 para o Madrid). O Mallorca apertou tanto o adversário que o melhor jogador em campo acabou sendo o goleiro Iker Casillas, do time vencedor. Fez pelo menos quatro defesas que até o extraordinário Marcos teria dificuldades em praticar.
Como barcelonista fanático, odeio o Madrid e odeio mais ainda aquele bando de jogadores com a camisa branca (coisa mais sem graça) festejando um título atrás do outro.
Mas, nos poucos momentos em que a paixão dá uma brecha para a razão, sou forçado a reconhecer que o Real Madrid é uma belíssima máquina de jogar bola.
O leitor dirá: bom, com tantos craques, fica fácil. É verdade, mas o ponto não é esse. Como dizem os norte-americanos, "you need two to tango". Assim como no tango são necessários dois para bailar, no balé que é o futebol você precisa de dois times para encher os olhos do público.
A Espanha de hoje é rica de dois times em cada estádio, a cada rodada. No Brasil, já é uma proeza montar um único time que seja capaz de deliciar o público. Dois, então...
É esse o ponto: por mais que continue sendo o melhor do mundo, por mais que a exportação de craques (e não tão craques) já seja histórica, a decadência das últimas décadas fez com que a indústria local de bons jogadores já não consiga produzir o suficiente para atender tanto a demanda interna quanto a externa.
Resultado: mesmo no seu campo de excelência, o Brasil hoje exporta talentos e importa saudades.


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