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CLÓVIS ROSSI
De talentos e saudades
SÃO PAULO - Fiquei "zapeando" anteontem entre a TV Globo (Cruzeiro
x São Caetano) e a TV espanhola
(Real Madrid x Real Mallorca).
Acabou sendo um penoso ajuda-memória sobre a degradação do Brasil nas décadas mais recentes.
O jogo de Minas, embora estivesse
em campo o time que está sendo considerado o melhor do país, foi chato,
arrastado, medíocre.
O jogo de Madri foi efervescente,
muito mais do que indica o marcador (3 a 0 para o Madrid). O Mallorca apertou tanto o adversário que o
melhor jogador em campo acabou
sendo o goleiro Iker Casillas, do time
vencedor. Fez pelo menos quatro defesas que até o extraordinário Marcos teria dificuldades em praticar.
Como barcelonista fanático, odeio
o Madrid e odeio mais ainda aquele
bando de jogadores com a camisa
branca (coisa mais sem graça) festejando um título atrás do outro.
Mas, nos poucos momentos em que
a paixão dá uma brecha para a razão, sou forçado a reconhecer que o
Real Madrid é uma belíssima máquina de jogar bola.
O leitor dirá: bom, com tantos craques, fica fácil. É verdade, mas o ponto não é esse. Como dizem os norte-americanos, "you need two to tango".
Assim como no tango são necessários
dois para bailar, no balé que é o futebol você precisa de dois times para
encher os olhos do público.
A Espanha de hoje é rica de dois times em cada estádio, a cada rodada.
No Brasil, já é uma proeza montar
um único time que seja capaz de deliciar o público. Dois, então...
É esse o ponto: por mais que continue sendo o melhor do mundo, por
mais que a exportação de craques (e
não tão craques) já seja histórica, a
decadência das últimas décadas fez
com que a indústria local de bons jogadores já não consiga produzir o suficiente para atender tanto a demanda interna quanto a externa.
Resultado: mesmo no seu campo de
excelência, o Brasil hoje exporta talentos e importa saudades.
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