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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Depois da eleição
TUDO PODE acontecer em
eleição ou nas semanas que
que a antecedem. Afora imprevisto extremo, porém, a sucessão presidencial de 2006 está definida. O presidente será reeleito,
por grande margem, no primeiro
turno.
Essa eleição terá característica
singular na história brasileira,
mesmo quando comparada com a
eleição de 1950, em que se elegeu
Getúlio Vargas. O Brasil, embora
não mais seja país pobre, ainda é
país de pobres: pobre, por qualquer
critério razoável, é a grande maioria dos brasileiros. E enquanto as
duas classes médias -a tradicional
e a dos emergentes- se dividem
entre os três candidatos principais,
tudo indica que os pobres se definem, como que com uma só voz,
em favor do presidente-candidato.
Dessa circunstância resultam
dois problemas para o futuro governo. O primeiro é que não se governa o Brasil de hoje contra as
classes médias, mesmo quando se
conta com o beneplácito dos endinheirados. O segundo é que a fórmula a que se resigna a massa pobre -pequenas transferências
compensatórias de recursos, na ausência de qualquer mudança de
fundo na estrutura das oportunidades econômicas e educativas-
não basta nem para ela nem para
o país.
Os dois problemas têm a mesma
solução. A solução é que o novo governo Lula abrace projeto de desenvolvimento econômico com inclusão social que nossas duas classes médias possam compreender e apoiar. Projeto que, sem renegar o
realismo fiscal ou a ajuda emergencial aos que penam na miséria, abra
portas para a ascensão econômica
e educativa de dezenas de milhões
de brasileiros.
Reduzido a seus elementos mais
básicos, esse projeto tem três diretrizes. Oportunidade educativa: sacudir o ensino público de cima a
baixo para melhorar-lhe dramaticamente a qualidade. Oportunidade econômica: fazer os interesses
do trabalho e da produção prevalecerem sobre os do rentismo, acabar
com a informalidade a que continuam condenados 60% dos trabalhadores e usar os poderes e os recursos do Estado para dar condição
aos esforçados -acesso a crédito,
tecnologia, conhecimento e escala.
Oportunidade política: separar a
política dos negócios, tirando-a da
sombra corruptora do dinheiro.
Para que se efetive tal projeto,
duas coisas são necessárias. A primeira é o presidente reeleito ousar,
sabendo quando unir e quando dividir. A segunda é que alguns de
seus adversários de ontem se disponham a lutar, como seus aliados
de amanhã, para dar braços e asas à
energia frustrada do país.
www.law.harvard.edu/unger
ROBERTO MANGABEIRA UNGER escreve às terças-feiras nesta coluna.
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