São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Nova fase

Campanha nos EUA vai se concentrar nos Estados sem opção partidária definida, muito afetados pela crise econômica

A ESCOLHA de um estádio abarrotado como cenário para o último ato da pré-campanha ilustra à perfeição o estilo de Barack Obama. A façanha do candidato democrata à Casa Branca foi pontuada de performances em que o senador exercitava seu impressionante carisma.
Mudança, esperança. A oratória de Obama mostrou-se um manancial de alegorias em torno de um mesmo tema. Agarrado a ela, um político mestiço em início de carreira, filho de pai queniano, conseguiu derrotar a poderosa máquina dos Clinton; angariou, também, grande simpatia dos chamados formadores de opinião, dentro e fora dos EUA.
A arrebatadora Obamania, contudo, não se traduz numa perspectiva de vitória tranqüila para o democrata. Há equilíbrio nas pesquisas nacionais de intenção de voto. As chances de Obama parecem melhores que as do republicano John McCain quando se pesquisa Estado por Estado, levando em conta as regras do jogo eleitoral nos EUA. Ainda assim, a quantidade de colégios onde não se pode estabelecer preferência clara é suficiente para modificar o resultado.
Se Obama já fez história e renovou a política americana, ainda não conseguiu desfazer a divisão que vem marcando sucessivas eleições. As regiões mais industrializadas e cosmopolitas -a Costa Oeste, o Nordeste e o entorno dos Grandes Lagos- manifestam preferência firme pelos democratas; o Sul e o extenso miolo do país são redutos republicanos. O pleito se decidirá, de fato, em alguns poucos Estados sem identidade partidária estabelecida, como Flórida e Ohio.
Em busca do apoio desses colégios cruciais, a campanha americana vai entrar agora em uma nova rotina. Além dos ataques mútuos -os anúncios para "desconstruir" a imagem do adversário têm sido implacáveis-, passa a prevalecer uma competição de propostas direcionadas a uma massa de eleitores assalariados, majoritariamente brancos e latinos. São famílias diretamente afetadas pela crise que levou a economia à estagnação e que ameaça seus tradicionais padrões de consumo e habitação.
A plataforma de Obama, nesse quesito, é o tradicional protecionismo democrata. Defende novos incentivos e regulamentações para diminuir a concorrência estrangeira e criar mais empregos nos Estados Unidos. McCain é nitidamente liberal. Promete, por exemplo, revogar a sobretaxa sobre a importação de álcool de cana e recuar na política de subsídios ao ineficiente etanol feito a partir do milho -o que seria vantajoso do ponto de vista do agronegócio brasileiro.


Próximo Texto: Editoriais: Risco de atraso no STF


Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.