|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NELSON MOTTA
O rei e o leão
RIO DE JANEIRO - Vamos economizar palavras: Roberto Carlos é
um cantor absolutamente perfeito.
E sejamos objetivos: está cantando
cada vez melhor. O tempo amaciou
e adoçou sua voz, tornou-a mais
grave e densa, domou-lhe a emoção
e os excessos, sua técnica ficou ainda mais rigorosa e precisa. Seu único ponto vulnerável, de qualquer
intérprete, é o repertório: o que
cantar. Os critérios são subjetivos,
há sempre controvérsias. Por que
essa e não aquela? Mas como cantar, ele sabe e faz cada vez melhor.
Imagine então quando ele canta
uma seleção de clássicos de nosso
compositor maior, Antonio Carlos
Jobim? Com todo o respeito e gratidão por sua bela e vasta obra com
Erasmo, Roberto nunca cantou um
repertório melhor do que esse. Era
impossível não dar certo. Como na
canção de Tom e Vinicius, foi o que
tinha de ser: um encontro musical
perfeito.
Caetano foi soberbamente discreto e reverente a Roberto, logo
ele, um leonino solar e sempre tão
orgulhoso e desafiador. Em sua noite de leãozinho, parecia um menino
com seu ídolo, e foi lindo vê-lo e ouvi-lo emocionado. Cantou impecavelmente músicas difíceis e complexas como "O que Tinha de Ser" e
a seminal "Caminho de Pedra".
Reafirmou que, além de um dos
nossos maiores compositores, é dos
melhores intérpretes. O súdito cantou de igual para igual com o rei.
Mesmo assim, por alguma força
estranha, o show foi criticado por
alguns por sua chatice, previsibilidade, frieza, arrogância e elitismo.
Por sua ruindade. Como dois e dois
são cinco.
Quando todos assistirem a ele na
TV, quem vai acreditar que aquilo é
ruim, chato, inútil, que nem merecia ser visto? As palavras serão desnecessárias, restarão só as vozes de
Roberto e Caetano cantando Tom
Jobim. Como um e um são três.
Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: Liga da Justiça Próximo Texto: José Sarney: Ninho de pássaro Índice
|