São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NELSON MOTTA

O rei e o leão

RIO DE JANEIRO - Vamos economizar palavras: Roberto Carlos é um cantor absolutamente perfeito. E sejamos objetivos: está cantando cada vez melhor. O tempo amaciou e adoçou sua voz, tornou-a mais grave e densa, domou-lhe a emoção e os excessos, sua técnica ficou ainda mais rigorosa e precisa. Seu único ponto vulnerável, de qualquer intérprete, é o repertório: o que cantar. Os critérios são subjetivos, há sempre controvérsias. Por que essa e não aquela? Mas como cantar, ele sabe e faz cada vez melhor.
Imagine então quando ele canta uma seleção de clássicos de nosso compositor maior, Antonio Carlos Jobim? Com todo o respeito e gratidão por sua bela e vasta obra com Erasmo, Roberto nunca cantou um repertório melhor do que esse. Era impossível não dar certo. Como na canção de Tom e Vinicius, foi o que tinha de ser: um encontro musical perfeito.
Caetano foi soberbamente discreto e reverente a Roberto, logo ele, um leonino solar e sempre tão orgulhoso e desafiador. Em sua noite de leãozinho, parecia um menino com seu ídolo, e foi lindo vê-lo e ouvi-lo emocionado. Cantou impecavelmente músicas difíceis e complexas como "O que Tinha de Ser" e a seminal "Caminho de Pedra". Reafirmou que, além de um dos nossos maiores compositores, é dos melhores intérpretes. O súdito cantou de igual para igual com o rei.
Mesmo assim, por alguma força estranha, o show foi criticado por alguns por sua chatice, previsibilidade, frieza, arrogância e elitismo. Por sua ruindade. Como dois e dois são cinco.
Quando todos assistirem a ele na TV, quem vai acreditar que aquilo é ruim, chato, inútil, que nem merecia ser visto? As palavras serão desnecessárias, restarão só as vozes de Roberto e Caetano cantando Tom Jobim. Como um e um são três.


Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: Liga da Justiça
Próximo Texto: José Sarney: Ninho de pássaro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.