São Paulo, terça-feira, 29 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS/DEBATES

A escolha da sede e o movimento olímpico

JACQUES ROGGE


A eleição da cidade-sede da Olimpíada de 2016 será um grande momento, mas não um fim em si mesmo para a família olímpica

O COMITÊ Olímpico Internacional se prepara para viver uma hora de tensão e suspense em Copenhague na próxima sexta-feira: a eleição da cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
O anúncio da escolha de Chicago, Madri, Rio de Janeiro ou Tóquio reboará no mundo inteiro. A vencedora será encarregada de organizar um dos poucos acontecimentos realmente mundiais capazes de reunir a grande maioria da humanidade para celebrar não apenas vitórias esportivas mas também proezas humanas.
Trata-se de uma decisão importante, e é evidente que o "momento da verdade" será transmitido ao vivo e será a primeira página de jornais no mundo inteiro. Será, com certeza, um momento tão emocionante quanto a estreita vitória de Londres sobre Paris quatro anos atrás. Mas, ainda que essa eleição seja apaixonante e recreativa, ela é só uma página da história que se escreve em Copenhague.
Na verdade, o movimento olímpico ainda terá muitas questões significativas a resolver em Copenhague. Questões que podem ter um impacto mais duradouro sobre os Jogos e a sociedade. A eleição da cidade-sede é só uma parte de uma assembleia muito maior: o Congresso Olímpico.
Um Congresso Olímpico é evento raro e especial que em geral acontece só uma vez a cada dez anos. O primeiro (Paris,1894) estabeleceu os Jogos Olímpicos modernos. O congresso de 2009 é o primeiro em 15 anos e o primeiro do novo milênio. Seu papel é ajudar a guiar o movimento olímpico num futuro que comporta tanto grandes promessas quanto perigos reais.
Se bem-sucedido, ajudará a assegurar a perenidade e a importância do que é provavelmente uma das atividades culturais mundiais mais significativas. O congresso ajudará a assegurar que as competições futuras para sedes sejam tão cerradas quanto hoje.
A organização, que nasceu 115 anos atrás para promover os valores olímpicos, está mais forte do que nunca, com 205 comitês olímpicos nacionais espalhados por todos os continentes. Mas há desafios difíceis pela frente.
O tema do congresso neste ano é "O movimento olímpico e a sociedade".
Trata-se de um vasto tema que reflete o fato de que o esporte é uma parte integrante da sociedade, não algo acima ou além dela. Pierre de Coubertin, fundador de nosso movimento moderno, disse: "Uma competição esportiva sem valores ou cultura é um mero desfile militar". Nosso objetivo é colocar o esporte a serviço da humanidade. Por meio do esporte, desejamos mobilizar o que há de melhor e nos opor ao que há de pior.
O uso indevido de drogas e a dopagem continuam a representar uma grave ameaça para a integridade do esporte e para a saúde e a segurança dos atletas, do mesmo modo que para a sociedade no sentido mais amplo.
Fizemos muitos progressos nos esforços para desencorajar e detectar trapaceiros. Mas essa luta não tem fim e devemos permanecer vigilantes.
Uma outra ameaça para o esporte e para a saúde é a falta de atividade física. Hoje, o esporte enfrenta uma forte competição pela atenção e pelo interesse dos jovens, sobretudo nos países desenvolvidos. Podemos ver o resultado nas taxas crescentes de obesidade entre os jovens.
Com certeza, nossos esforços para levar o esporte e os valores esportivos às populações encontram muitos obstáculos devidos à pobreza. Em outras partes do mundo, devemos multiplicar os esforços para manter atraentes os valores olímpicos diante de uma superabundância de escolhas.
Com esse objetivo, no próximo mês de agosto, tentaremos nova abordagem para atrair os jovens: o lançamento dos primeiros Jogos Olímpicos para a Juventude, em Cingapura.
Em Copenhague, nós consagraremos um tempo considerável à procura de outras maneiras de colocar os valores olímpicos em ação.
Examinaremos a governança de nosso movimento, a fim de melhorar a transparência e a responsabilidade.
Vamos rever o papel dos Jogos na promoção dos valores olímpicos. Vamos trabalhar para que as Olimpíadas continuem a ser interessantes, com manifestações esportivas de amplidão e custos realistas. Vamos discutir maneiras de contribuir mais para prestar apoio ao esporte nos países em desenvolvimento. E, acima de tudo, vamos considerar nossas obrigações com relação aos atletas.
Essas discussões começarão no dia seguinte à eleição da cidade-sede dos Jogos de 2016. Não posso prever o resultado. Estou, portanto, tão ansioso quanto qualquer um. Será um grande momento, mas não o fim da história em Copenhague nem um fim em si mesmo para a família olímpica.
As discussões ajudarão a determinar se o movimento olímpico pode continuar a ser útil e viável por mais um século. Os fundadores do movimento olímpico no século 19 tiveram que modernizar os Jogos e seus valores. Nossa tarefa não é menos importante se queremos colher os enormes benefícios que os Jogos Olímpicos podem trazer para a humanidade.


JACQUES ROGGE é presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


Texto Anterior: Frases

Próximo Texto: Leonel Kaz: Museu do Futebol: a experiência da palavra

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.