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ANTONIO DELFIM NETTO
A fácil CPMF
Não é fácil entender o que a área
econômica pretende fazer com a
imagem de FHC. Desde que a correção da tabela do Imposto de Renda foi
aprovada no Congresso (com o apoio
da liderança do governo), tem sido estimulado um debate kafkaniano, que
terminou com o veto do sr. presidente. Foi emitida, como compensação,
uma medida provisória que aumenta
os impostos sobre as empresas de serviço. Houve uma reação indignada da
Câmara e do Senado e das vítimas do
novo avanço tributário. Rapidamente,
os gênios orçamentários utilizaram os
"rumores" (no que são mestres) para
informar que nova MP substituirá a
proposta original por um novo aumento da CPMF ou do IOF.
Afinal, qual é o problema? Por que é
preciso, como insistem, aumentar os
impostos em lugar de simplesmente
cortar o aumento das despesas? O artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal diz que "a concessão ou ampliação
de incentivo ou benefício de natureza
tributária da qual decorre renúncia de
receita deverá (...) estar acompanhada
de medida de compensação (...) por
meio da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração
ou criação de tributo ou contribuição". O governo insiste que houve "renúncia de receita" e ignora o resto.
Malandramente, aliás, confunde-se,
no IR, isenção com dedução, e esquece-se o artigo 12 da Lei de Responsabilidade Fiscal.
É preciso muito cinismo para considerar que não corrigir a tabela do Imposto de Renda durante seis anos consecutivos foi um "incentivo ou benefício" para o contribuinte. Pior ainda é
afirmar que, não podendo mais extorqui-lo ilegalmente (porque se tratava
de cobrar mais imposto do que a lei alguma vez autorizou), o que deixa de
agafanhar no golpe ousado é "renúncia de receita"!
A CPMF foi criada pelo respeito do
Congresso a um cientista e grande administrador -que é o ex-ministro
Adib Jatene- para resolver o insolúvel problema da saúde. Ele cedo descobriu que a saúde iria tardar a beneficiar-se dos recursos: o Ministério da
Fazenda cobrou, primeiro, "empréstimos" que lhe havia feito anteriormente! É por isso que hoje o dr. Jatene se
diverte dizendo que só voltará ao governo como ministro da Fazenda...
A CPMF é um péssimo imposto,
porque produz distúrbios sobre os
preços relativos e, consequentemente,
reduz a eficiência do sistema econômico. E é tanto mais maléfica quanto
maior a sua alíquota, que, hoje, já está
em 0,38% -para financiar a Previdência Social, a saúde e o combate à
pobreza. Fala-se agora em aumentá-la
para compensar a "renúncia de receita
irresponsavelmente imposta" pelo
Congresso. Se for aumento no IOF será pior, pois aumentaria diretamente
o custo do capital!
A CPMF transformou-se no "imposto dos desesperados". O ex-ministro Cavallo elevou-o na Argentina, às
vésperas do colapso, para 0,6%. O ridículo boina vermelha Hugo Chávez
acaba de instituí-lo com a mesma alíquota de 0,6% para compensar "a
queda de receita proveniente da redução dos preços do petróleo".
Ele é o óleo de cobra do Velho Oeste:
cura desde unha encravada até câncer.
É o imposto preferido dos governos
que têm pouco apreço pela produtividade e têm um viés contra o desenvolvimento econômico.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br
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