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A SERVIÇO DAS METAS
As explicações do Comitê de
Política Monetária do Banco
Central para a interrupção da trajetória de queda da taxa de juros causaram reações num dia turbulento para
o mercado financeiro. A esperada ata
do Copom justifica a decisão com temores de que aumentos detectados
nos índices de preços possam não
ser um fenômeno temporário, mas
"uma eventual acomodação da inflação em patamares mais elevados".
Desde dezembro, analistas projetavam pequenas altas da inflação para
o início do ano. Também era de esperar que, sob pressão de custos de
matérias-primas ou de aumento de
tributos, alguns setores procurassem recompor suas margens.
Nada disso, no entanto, caracteriza
um processo inflacionário que deva
-ou mesmo possa- ser contido
com altas taxas de juros. O país vem
de um duro período de retração, com
forte queda da renda dos trabalhadores e índices alarmantes de desemprego. Aliada a outros fatores, a redução da taxa Selic, que o BC lentamente promovia desde junho de
2003, começava a aliviar a atividade
econômica, renovando as esperanças de um 2004 melhor. Ao mudar a
rota, supondo um descompasso entre a demanda e o crescimento da
oferta, o BC desorganizou as expectativas e trouxe ao centro da cena um
fantasma -o da inflação- que já
parecia fadado a papel secundário.
A favor do Copom, diga-se que parece vivamente empenhado em cumprir a meta de inflação (de 5,5% para
este ano). Seu zelo só é comparável
ao do Ministério da Fazenda na busca de superávits fiscais. Essa situação
vai transformando a economia brasileira numa espécie de experimento
do qual se procura extrair, a todo
custo, não o aumento da riqueza,
mas metas de inflação e de superávit.
É preciso saber, no entanto, se tais
metas são realistas e compatíveis
com os verdadeiros objetivos a serem
perseguidos, ou seja, crescimento,
emprego e distribuição de renda. Caso contrário, o país continuará ao sabor de bolhas especulativas, sujeitas
a mudanças de humores (como se
observou ontem), sem romper com a
dinâmica de crescimento medíocre e
descontínuo dos últimos anos.
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