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ELIANE CANTANHÊDE
Onde a onda estoura
SANTIAGO DE COMPOSTELA - A percepção, dentro e fora dos governos, é a de que a crise deverá ser
mais profunda e mais longa do que
se imaginava. E a Espanha tende a
ser um dos europeus mais afetados
-se não o mais. Quanto mais alto o
voo, maior a queda.
O "boom" econômico veio quando os primos ricos passaram a injetar dinheiro na Espanha e em Portugal para dar um mínimo de equilíbrio à região e viabilizar a União
Europeia. O aeroporto de Barajas é
um show, e há novos bairros e blocos de apartamentos por toda a parte. Foram 800 mil novas habitações
ao ano, mais do que Alemanha,
França e Reino Unido juntos.
Como bem sabemos a partir do
Santander e da Telefónica, por
exemplo, a Espanha também disparou em outras áreas, como bancos,
telefonia, turismo. E, desde os anos
90, deixou de exportar e passou a
importar imigrantes, sobretudo da
América Latina (quase 40% do total). A festa acabou. E agora?
As taxas de desemprego espanholas sempre foram altas, mas ameaçam ser alarmantes, como mostrou
o "El País" no sábado. E os primeiros a "cair" são... os imigrantes.
No Brasil, milhares se mobilizaram em 12 Estados para exigir, por
ora, a queda dos juros. Na Espanha,
os imigrantes ilegais protestam nas
ruas contra novas regras duríssimas para os patrões que os empregam, enquanto os anúncios de demissões se multiplicam pelo mundo. Com efeito evidente em países
como Bolívia e Equador, onde as remessas de seus nacionais que vivem
na Europa e nos EUA são parte expressiva do PIB.
Quando o imigrante perde o emprego, o seu país de origem também
paga o pato: as remessas secam, a
arrecadação de impostos cai, o número de miseráveis aumenta e
cresce o risco de desemprego. O
imigrante que gerava renda tende a
voltar. Desempregado.
A crise começou no mais forte,
alastrou-se e vai estourar nos mais
fracos. Como sempre.
elianec@uol.com.br
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