São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 1999

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GOVERNO SÓ

O nervosismo nos mercados financeiros chegou ontem a um tal nível que, não fosse a escalada sempre crescente das duas últimas semanas, poderia até ser visto como o auge da crise. Mas, infelizmente, os limites têm sido ultrapassados diariamente e nada parece autorizar a hipótese de que segunda-feira será melhor.
Em meio à confusão, pelo menos uma mensagem parece ganhar relevo: são os agentes do próprio mercado financeiro que pedem uma injeção de credibilidade no governo e do governo. Vinda de Brasília e vinda de Washington. Sob a forma de palavras, ações e recursos financeiros.
As autoridades econômicas, entretanto, apenas tentam desmentir as hipóteses cada vez mais tresloucadas que os especuladores constroem e fazem circular nos mercados.
O governo parece acreditar que a imobilidade oficial acabará por tornar os especuladores vítimas de si mesmos. O próprio mercado se encarregaria de reverter o exagero da desvalorização cambial. Nos mercados, porém, essa reversão do exagero ainda é uma hipótese distante. Há expectativas de novas medidas de ajuste fiscal e mesmo de alguma intervenção oficial para ampliar a liquidez do mercado cambial.
E como até mesmo a loucura às vezes tem método, criam-se racionalizações para a imobilidade oficial. Para os mais criativos, o governo teria interesse numa hiperdesvalorização, pois tal cataclismo criaria as condições para a virtual pulverização da dívida pública e o lançamento de um novo plano de estabilização.
A solidão quase autista do Banco Central, que aguarda a autocorreção dos mercados, torna-se ainda maior diante do silêncio do governo norte-americano e do FMI, que vêm acompanhando a crise burocraticamente. A rede de segurança criada no ano passado, os US$ 41,5 bilhões de ajuda ao Brasil e o apoio do presidente Clinton parecem hoje excessivamente minimizados, enquanto as sementes do pânico se espalham em solo que parece a cada dia mais fértil.



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