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GOVERNO SÓ
O nervosismo nos mercados financeiros chegou ontem a um tal nível
que, não fosse a escalada sempre
crescente das duas últimas semanas,
poderia até ser visto como o auge da
crise. Mas, infelizmente, os limites
têm sido ultrapassados diariamente
e nada parece autorizar a hipótese de
que segunda-feira será melhor.
Em meio à confusão, pelo menos
uma mensagem parece ganhar relevo: são os agentes do próprio mercado financeiro que pedem uma injeção de credibilidade no governo e do
governo. Vinda de Brasília e vinda de
Washington. Sob a forma de palavras, ações e recursos financeiros.
As autoridades econômicas, entretanto, apenas tentam desmentir as
hipóteses cada vez mais tresloucadas
que os especuladores constroem e
fazem circular nos mercados.
O governo parece acreditar que a
imobilidade oficial acabará por tornar os especuladores vítimas de si
mesmos. O próprio mercado se encarregaria de reverter o exagero da
desvalorização cambial. Nos mercados, porém, essa reversão do exagero
ainda é uma hipótese distante. Há expectativas de novas medidas de ajuste fiscal e mesmo de alguma intervenção oficial para ampliar a liquidez
do mercado cambial.
E como até mesmo a loucura às vezes tem método, criam-se racionalizações para a imobilidade oficial. Para os mais criativos, o governo teria
interesse numa hiperdesvalorização,
pois tal cataclismo criaria as condições para a virtual pulverização da dívida pública e o lançamento de um
novo plano de estabilização.
A solidão quase autista do Banco
Central, que aguarda a autocorreção
dos mercados, torna-se ainda maior
diante do silêncio do governo norte-americano e do FMI, que vêm
acompanhando a crise burocraticamente. A rede de segurança criada no
ano passado, os US$ 41,5 bilhões de
ajuda ao Brasil e o apoio do presidente Clinton parecem hoje excessivamente minimizados, enquanto as sementes do pânico se espalham em
solo que parece a cada dia mais fértil.
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