São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 1999

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Além do fundo do poço

CLÓVIS ROSSI

Davos - Peço, pelo correio eletrônico, um encontro com Jeffrey Sachs, o economista de Harvard que a revista "Time" chegou a considerar o mais importante do mundo, e aviso que tem que ser antes que a moeda brasileira derreta completamente.
Resposta bem-humorada de Sachs: "Se é assim, tem que ser nos próximos poucos minutos".
Depois, cruzamos no corredor do Centro de Congressos de Davos, que, durante os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, é a maior concentração de personalidades por metro quadrado que o mundo produz.
Um amigo avisa a Sachs que o dólar estava, naquele momento, valendo R$ 2,06. O economista diz: "Agora, só falta eles aumentarem de novo os juros". O amigo devolve: "Já aumentaram".
Sachs arregala os olhos e balbucia: "É uma completa loucura".
Passo para a sessão em que se vai debater o "cassino" em que se transformou a economia global. George Soros, o megainvestidor ou megaespeculador, como preferir o leitor, diz:
"Tudo o que poderia ser feito de errado foi feito no Brasil."
Em outro debate, o ministro mexicano das Finanças, Ángel Gurria Treviño, dá o troco às autoridades brasileiras que disseram que o Brasil não era o México, quando este país quebrou em 1994/95:
"Os países da América Latina são diferentes uns dos outros, o que às vezes escapa aos investidores."
É uma maneira mais diplomática de dizer que o México não é o Brasil.
Até aí, ainda vá lá. Diferentes ou não, Brasil e México são latino-americanos e suas respectivas esculhambações têm certo parentesco.
O que realmente jogou meu ânimo para o mais profundo poço foi o encontro com Grigori Yavlinsky, economista e deputado russo, candidato derrotado à Presidência, o mais liberal dos liberais da Rússia.
"Brasil e Rússia estão na mesma situação", diz Yavlinsky. Se, pelo menos, fosse um tailandês que chegasse a essa conclusão...



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