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Além do fundo do poço
CLÓVIS ROSSI
Davos - Peço, pelo correio eletrônico,
um encontro com Jeffrey Sachs, o economista de Harvard que a revista "Time" chegou a considerar o mais importante do mundo, e aviso que tem
que ser antes que a moeda brasileira
derreta completamente.
Resposta bem-humorada de Sachs:
"Se é assim, tem que ser nos próximos
poucos minutos".
Depois, cruzamos no corredor do
Centro de Congressos de Davos, que,
durante os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, é a maior
concentração de personalidades por
metro quadrado que o mundo produz.
Um amigo avisa a Sachs que o dólar
estava, naquele momento, valendo R$
2,06. O economista diz: "Agora, só falta eles aumentarem de novo os juros".
O amigo devolve: "Já aumentaram".
Sachs arregala os olhos e balbucia:
"É uma completa loucura".
Passo para a sessão em que se vai
debater o "cassino" em que se transformou a economia global. George Soros, o megainvestidor ou megaespeculador, como preferir o leitor, diz:
"Tudo o que poderia ser feito de errado foi feito no Brasil."
Em outro debate, o ministro mexicano das Finanças, Ángel Gurria Treviño, dá o troco às autoridades brasileiras que disseram que o Brasil não era
o México, quando este país quebrou
em 1994/95:
"Os países da América Latina são diferentes uns dos outros, o que às vezes
escapa aos investidores."
É uma maneira mais diplomática de
dizer que o México não é o Brasil.
Até aí, ainda vá lá. Diferentes ou
não, Brasil e México são latino-americanos e suas respectivas esculhambações têm certo parentesco.
O que realmente jogou meu ânimo
para o mais profundo poço foi o encontro com Grigori Yavlinsky, economista e deputado russo, candidato
derrotado à Presidência, o mais liberal dos liberais da Rússia.
"Brasil e Rússia estão na mesma situação", diz Yavlinsky. Se, pelo menos, fosse um tailandês que chegasse a
essa conclusão...
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