São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2005 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Economia "masculina" ou "feminina"?
ROSE MARIE MURARO e MARCOS ARRUDA
O primeiro são as feiras de troca, já existentes pelo menos em 60 países. E a mais interessante foi a da Argentina, na época da crise aguda de 2002-2003. Nesses dois anos, essas feiras atraíram quase 5 milhões de pessoas empobrecidas que trocavam entre si mercadorias e serviços sem precisar da moeda nacional -o peso-, porque usavam como meio de troca uma moeda complementar -o crédito-, criada coletivamente e feita em computador. Nesse sistema não há interesse em acumular moeda justamente porque ela não é reserva de valor, associada a uma taxa de juros. Desse modo, tirou-se do mercado competitivo cerca de US$ 2 bilhões, ao mesmo tempo em que se permitiu que os pobres trocassem alimentos, serviços e outros bens entre si sem gastar pesos. Outro exemplo: uma firma paulista da área agroquímica, muito endividada, decidiu apostar nos seus funcionários, investindo no aumento da remuneração, na saúde, no lazer e, principalmente, na democratização do capital. Assim, ela conseguiu reverter a sua situação econômica e alcançar um grande desenvolvimento, compartilhado por todos. E hoje já existe um número cada vez maior de firmas desse tipo. Nos Estados Unidos, firmas geridas desse modo, conduzidas por homens ou por mulheres, cresceram numa década 129%, ao passo que outras, geridas pelo modelo perde/ganha, só 85%. Na Índia, o Coletivo de Mulheres de Tamil Nadu vem gerindo solidariamente as finanças, a produção e o consumo. O mesmo fazem cerca de 2 bilhões de habitantes do planeta ainda não monetizados, segundo a economista americana Hazel Henderson. Ainda segundo ela, se todo esse trabalho não monetizado fosse computado no PIB mundial, acresceria um valor estimado em US$ 16 trilhões (Folha, 27/8/04). Vários países já estão tentando colocar nas suas contas nacionais valores humanos em vez de agregados macroeconômicos abstratos, reduzindo assim os seus déficits e os transformando em superávits, como fizeram os EUA no governo Clinton, o Canadá e a Suíça. O presidente Lula está tentando tirar do superávit primário os investimentos em infra-estrutura, o que humanizaria muito as nossas contas nacionais. Quanto mais países tirarem os investimentos da reserva dedicada aos juros, mesmo à revelia do FMI, mais chances haverá de chegarmos a um ganha/ganha e revertermos o processo de destruição do planeta. Rose Marie Muraro, 74, editora e escritora, é membro fundadora do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Marcos Arruda, 64, economista, é diretor do Instituto para Políticas Alternativas para o Cone Sul. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Nilmário Miranda e Flavia Piovesan: Justiça e combate à impunidade Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |