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O CÂMBIO E A META
Não fosse a notável valorização da moeda brasileira, a inflação do ano passado se teria mantido no mesmo patamar da observada
em 2004. A queda do dólar foi fundamental para a trajetória de gradual
declínio dos preços ao longo dos três
primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Essas conclusões,
de um relatório do Banco Central divulgado anteontem, deveriam levar
as principais candidaturas presidenciais a refletir sobre como pretendem
aperfeiçoar o regime de metas.
O impacto cambial da escalada dos
juros básicos e do apetite voraz de investidores globais por papéis brasileiros ajudou a política monetária a
ceifar 2,1 pontos percentuais do IPCA de 2005. Por conta do dólar cadente, a inflação -que teria fechado
o ano em 7,8% caso o efeito-câmbio
tivesse sido neutro- ficou mais de
um quarto menor e atingiu 5,7%.
Estimular a apreciação do real
-com juros altos- foi o modo que
o BC encontrou de perseguir a meta
de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional ainda no primeiro
ano da gestão Lula e ratificada em
2004. Tivesse o CMN optado por
uma queda mais suave do IPCA ao
longo do tempo -e/ou tivesse o BC
operado com mais tolerância, aproximando-se do topo da banda de flutuação da meta-, os efeitos indesejáveis da saudável política de conter a
inflação teriam sido minorados.
O câmbio não precisaria ter sido
estimulado a uma valorização tão
grande, ameaçando a competitividade de ramos importantes da indústria; e os juros básicos não precisariam ter sido tão elevados, prejudicando, como se viu, toda a atividade
econômica -o crescimento do PIB
em 2005 foi reduzido à metade em
relação ao desempenho de 2004.
Há algum tempo se debatem algumas idéias para melhorar a eficácia
da política antiinflacionária: dar
mais importância à tendência de variação dos preços do que a oscilações
ocasionais (usando alguma medida
de núcleo de inflação); desvincular o
cumprimento da meta do ano-calendário; escolher equipes para o BC
com capacidade e credibilidade para
sacrificar menos a produção e o emprego em momentos críticos. Os
presidenciáveis estão convidados a
se manifestar sobre o tema.
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