São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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O CÂMBIO E A META

Não fosse a notável valorização da moeda brasileira, a inflação do ano passado se teria mantido no mesmo patamar da observada em 2004. A queda do dólar foi fundamental para a trajetória de gradual declínio dos preços ao longo dos três primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Essas conclusões, de um relatório do Banco Central divulgado anteontem, deveriam levar as principais candidaturas presidenciais a refletir sobre como pretendem aperfeiçoar o regime de metas.
O impacto cambial da escalada dos juros básicos e do apetite voraz de investidores globais por papéis brasileiros ajudou a política monetária a ceifar 2,1 pontos percentuais do IPCA de 2005. Por conta do dólar cadente, a inflação -que teria fechado o ano em 7,8% caso o efeito-câmbio tivesse sido neutro- ficou mais de um quarto menor e atingiu 5,7%.
Estimular a apreciação do real -com juros altos- foi o modo que o BC encontrou de perseguir a meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional ainda no primeiro ano da gestão Lula e ratificada em 2004. Tivesse o CMN optado por uma queda mais suave do IPCA ao longo do tempo -e/ou tivesse o BC operado com mais tolerância, aproximando-se do topo da banda de flutuação da meta-, os efeitos indesejáveis da saudável política de conter a inflação teriam sido minorados.
O câmbio não precisaria ter sido estimulado a uma valorização tão grande, ameaçando a competitividade de ramos importantes da indústria; e os juros básicos não precisariam ter sido tão elevados, prejudicando, como se viu, toda a atividade econômica -o crescimento do PIB em 2005 foi reduzido à metade em relação ao desempenho de 2004.
Há algum tempo se debatem algumas idéias para melhorar a eficácia da política antiinflacionária: dar mais importância à tendência de variação dos preços do que a oscilações ocasionais (usando alguma medida de núcleo de inflação); desvincular o cumprimento da meta do ano-calendário; escolher equipes para o BC com capacidade e credibilidade para sacrificar menos a produção e o emprego em momentos críticos. Os presidenciáveis estão convidados a se manifestar sobre o tema.


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