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NELSON MOTTA
Cidade envenenada
RIO DE JANEIRO - O governador
Sérgio Cabral foi corajoso, mas
tardio, ao abrir o debate sobre a descriminalização de drogas como fator de redução da violência carioca,
que se origina no tráfico e atinge
a imensa maioria dos que não vendem nem consomem. Só pagam
a conta.
Agora é tarde demais para o Rio.
Com a legalização, eles não abririam lojinhas de doces. Seriam legiões de bandidos desempregados e
armados descendo sobre a cidade
indefesa. A falência do tráfico seria
compensada com assaltos, seqüestros e arrastões. Ou pior.
Na pacífica Amsterdam, que os
holandeses temiam que se transformasse em uma cidade de drogados,
dez anos depois da liberação, o site
oficial da prefeitura registra que os
8% de consumidores habituais de
1996 se reduziram a 4% da população adulta. Aumento só de turistas,
que a visitam como uma Disneylândia de doidões. No mesmo período,
sob fogo cerrado da repressão, os
consumidores ilegais nos Estados
Unidos cresceram de 9% para 13%.
Mas como explicar que Nova
York, com seu poder econômico e
seu consumo de drogas muito
maior que o do Rio de Janeiro, tenha uma criminalidade muito menor? E como, apesar do tráfico, eles
reduziram a corrupção policial, os
assaltos e os assassinatos aos níveis
dos anos 60?
No Rio, a população está muito
mais preocupada com a sua segurança e a de sua família do que se alguém está comprando ou vendendo
maconha ou cocaína. Sem cinismo
ou hipocrisia: faria muito mais sentido se a força policial estivesse protegendo os cidadãos nas ruas do que
subindo morro atrás de vendedores
e compradores de veneno.
Se a guerra ao tráfico não fosse
uma prioridade máxima, uma inútil
obsessão, a polícia teria mais tempo, homens e armas para defender a
população.
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