São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Isenção de IR para especuladores

AS NOTÍCIAS sobre a crise financeira provocada pela festa do "sub-prime" têm nos levado a uma ciclotimia.
Aceita-se que a volatilidade é uma das características intrínsecas dos mercados de títulos e de commodities. Mas há os problemas reais e de longa duração. Ninguém sabe exatamente o buraco do rombo causado pela inadimplência dos que tomaram empréstimos e não conseguiram pagar nos Estados Unidos. Ninguém sabe, tampouco, quantos e quais os bancos serão afetados.
As autoridades brasileiras continuam dizendo que, na pior das hipóteses, sofreremos alguns respingos. O que também é incerto. Há, porém, um aspecto que fica cada vez mais claro. O Brasil entrou numa verdadeira armadilha financeira. Nossa taxa de juros é tão alta que o país vem sendo considerado como o maior cassino internacional. Quem diz isso é o economista-chefe da Unctad e ex-secretário de finanças da Alemanha, Heiner Flassbeck ("Brasil está sendo vítima de cassino internacional", "O Estado de S. Paulo", 21/3).
A razão dessa triste situação é bem conhecida. Especuladores de grosso calibre tomam dinheiro emprestado em países onde a taxa de juros reais é de 2% ou de 3% -ou até menos, como é o caso do Japão, onde a taxa é de 0%-, para comprar, no Brasil, títulos públicos que, com toda a segurança e isenção de Imposto de Renda, geram lucros ao redor de 6,5% reais. É um maná.
Há especuladores que não têm escrúpulos de dizer que vêm lucrando bilhões de dólares na ciranda financeira do Brasil. Ao primeiro espirro do presidente Lula, marcham em retirada, nada deixando para trás a não ser uma maior dívida interna.
Juntando-se o anúncio da ata do Copom, que insinua nova elevação dos juros, com o derretimento do dólar no exterior e a derrubada dos juros nos Estados Unidos, os especuladores já ligaram seus motores para aqui chegar com uma enxurrada de dólares, o que deprimirá ainda mais a taxa de câmbio. Estamos no meio de uma cilada.
Heiner Flassbeck alerta, com toda a razão, que essa situação não é sustentável para as exportações brasileiras no médio prazo. Muitos setores já estão sofrendo com o câmbio atual, e isso pode se generalizar com futuras quedas.
Não está na hora de suspender a isenção de Imposto de Renda para quem vem aqui especular?
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


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