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RUY CASTRO
25 anos de pasmaceira
RIO DE JANEIRO - Se você tem
25 anos ou menos, não o invejo. A
leitura de uma entrevista do ex-ministro do Planejamento João Paulo
dos Reis Velloso me alertou para
um fato triste: há toda uma geração
de brasileiros que nunca viu o Brasil
crescer, nem sabe o que é desenvolvimento. Para isso basta ter nascido
cerca de 1982.
Segundo Reis Velloso, a renda per
capita nacional cresceu em média
apenas 0,6% ao ano nesse período.
Enquanto isso, a de outros países
chegou a níveis de, como diria o falecido Ronaldo Bôscoli, placar de
basquete americano.
Entrou governo, saiu governo e
todos nos disseram que o Brasil iria
fazer e acontecer no mundo. Pois
quem está pintando os canecos é a
China. Até o contrabando paraguaio já prefere os artigos chineses
-por aí se vê como a coisa é grave.
Minha geração pegou dois surtos
de desenvolvimento no Brasil. O da
segunda metade dos anos 50, sob
Juscelino -que costuma ser atribuído somente a JK, mas que, para
mim, aconteceria com ou sem ele,
pelo volume de dinheiro rolando
depois da Segunda Guerra, aqui e
no exterior. E o de 1970, que deu no
chamado "milagre" e se estendeu a
meados daquela década, antes da
crise internacional do petróleo.
É divertido viver sob uma euforia
"desenvolvimentista". O dinheiro
sobra. Pode-se investi-lo direito e
pode-se também torrá-lo construindo uma cidade com tijolos que
precisam ser levados de avião, apostando as calças na Bolsa ou queimando gasolina como se ela desse
na bica do quintal. Claro que, um
dia, a vida real apresenta a conta.
Mas é melhor do que viver na
pasmaceira, só quebrada por escândalos como os de PC Farias, dossiê
Cayman, anões do Orçamento,
mensalão, valerioduto, sanguessugas ou Operação Navalha.
E depois nos perguntamos por
que não sobra dinheiro.
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