São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004 |
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ANTONIO DELFIM NETTO A aventura cambial
O problema mais polêmico e devastador do Plano Real é, sem
dúvida, o da taxa de câmbio. Fica cada
vez mais evidente que o país foi vítima
de uma grande aventura que agora
procura justificativa numa pseudoteoria econômica "moderna". As autoridades monetárias seriam portadoras de um conhecimento hegemônico
que lhes permitiria impor à sociedade
as suas decisões porque elas são resultado do conhecimento "científico".
Era assim, até há bem pouco tempo,
que impunham a sua vontade os portadores da "verdade" derivada do
marxismo de pé quebrado, que fez a
alegria e a glória de alguns de nossos
intelectuais... Se a taxa de câmbio real estivesse subvalorizada, pareceria razoável esperar que a participação das exportações brasileiras nas exportações mundiais estaria aumentando. Isso de fato ocorreu no período 1975/77 e, mais intensamente, no período 1982/84, devido à desvalorização cambial de 1983. Mas é visível que nos anos seguintes os seus efeitos foram sendo erodidos. Hoje nossa participação é menor do que a de 1971/75! O caso da Coréia do Sul é exemplar. Nos 19 anos que medeiam entre 1971/ 73 e 1990/92, suas exportações cresceram à taxa de 21% ao ano (enquanto as brasileiras não atingiram a taxa mundial -de quase 12%). A sua taxa de câmbio real foi mantida praticamente constante no período comparada com o dólar (e desvalorizou-se em relação às outras moedas). Apesar de ligado ao dólar, o won sofreu quatro maxidesvalorizações a partir de 1961. E, desde 1980, a Coréia do Sul se encontra num sistema de "managed float". Uma habilidosa combinação de política fiscal com monetária impediu, entretanto, que houvesse qualquer flutuação brusca na taxa real de câmbio e estimulou um movimento continuado de desvalorização real. Isso mostra que a flutuação cambial suja e voluntariosa deste semestre foi apenas tolice. Sem uma verdadeira âncora monetária, sem um equilíbrio fiscal sólido e sem coragem de assumir um compromisso cambial mais inteligente, o mercado vai perceber, mais cedo ou mais tarde, que o custo dessa política é insuportável. Aí o governo terá grandes surpresas! Este artigo foi publicado neste mesmo espaço no dia 14/12/1994, duas semanas antes da passagem do governo do presidente Itamar Franco ao presidente Fernando Henrique Cardoso. As surpresas foram realmente muito grandes: um crescimento medíocre de 2% ao ano na década e US$ 180 bilhões de déficit em conta corrente. Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna. dep.delfimnetto@camara.gov.br Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Guerra em banho-maria Próximo Texto: Frases Índice |
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