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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Palocci, cuidado com os gênios

MONTRÉAL- O jornal "The New York Times" relatou, no domingo, um pequeno erro de apenas US$ 12 trilhões cometido pelo economista Michael J. Boskin.
Não se trata de um economista qualquer. Foi chefe do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca (gestão Bush pai), faz parte da assessoria do Comitê de Orçamento do Congresso, é de uma das grifes acadêmicas dos EUA (Stanford) e, segundo o relato do "Times", "não hesita em ensinar o Congresso, as agências federais e mesmo o banco central a fazer seu trabalho" (qualquer semelhança com consultores brasileiros não é mera coincidência).
Muito bem. Com todo esse prestígio, Boskin preparou um trabalho acadêmico no qual dizia que ninguém estava contabilizando US$ 12 trilhões em impostos que o governo arrecadaria quando uma nova geração começasse a sacar seus investimentos em determinados fundos.
É pouco mais ou menos o tamanho da economia norte-americana. Logo havia um EUA a arrecadar, sem que ninguém soubesse, exceto o genial Boskin.
Quando o trabalhou começou a circular, alguns acadêmicos apontaram-lhe uma porção de erros e incongruências. Boskin acabou por admitir que sua equação continha "erros".
"Erros" acaba de admitir também o Fundo Monetário Internacional em relação ao Brasil. "Falhou ao apontar as vulnerabilidades do Plano Real -principalmente em relação ao aumento da dívida interna brasileira-, demonstrou um otimismo infundado com o sistema de câmbio fixo (...) e errou ao não recomendar, já em meados de 1988, a flutuação do câmbio", conforme o relato de Fernando Canzian nesta Folha.
O erro de Boskin custou apenas uma mancha na sua reputação acadêmica. Alguém aí já fez as contas sobre o custo dos erros do FMI para o Brasil?
Tudo somado, ministro Palocci, abra o olho: lustrosas fichas acadêmicas e técnicas, como a de Boskin ou a do pessoal do FMI, não garantem bons conselhos.


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