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ANTONIO DELFIM NETTO
A misteriosa volta da ANL
O BRASIL é, positivamente,
um país interessante. Nele,
as idéias não morrem de velhice. São congeladas. Retornam
como Lázaros para entusiasmar,
novamente, cidadãos que perderam a memória, mas não as esperanças. Continuam desesperados
em busca de uma solução para nossos problemas. A situação é tão
complexa e confusa que chega a
produzir uma inversão temporal:
se a solução que procuramos não
está no futuro, porque não procurá-la no passado? Agora mesmo somos crucificados diuturnamente
por fantásticos e incríveis discursos de nossos "presidenciáveis".
Sem qualquer cerimônia, invadem
nossas casas pela televisão analógica, o "quase último estado da arte"
das comunicações. Instruídos pelos "marqueteiros", conversam
cuidadosamente. O objetivo é esconder do torturado e descuidado
eleitor os graves problemas nacionais. Aqueles que verdadeiramente
devem ser resolvidos, para a volta
ao crescimento robusto com equilíbrio interno e externo e um pouco
mais de justiça social, são esquecidos. Falam de tudo para não esclarecer nada...
Um desses discursos -talvez o
mais sincero e ingênuo- parece
um ectoplasma materializado numa sessão espírita. Afirma que a
solução dos problemas nacionais
reside "num amplo movimento popular nascido da necessidade em
que se acham os brasileiros de se
emanciparem economicamente do
jugo estrangeiro". Traduzido na
linguagem do tempo em que cinema se chamava animatógrapho,
propõe mais ou menos o seguinte:
1) "a suspensão definitiva do pagamento das dívidas imperialistas
do Brasil";
2) "a nacionalização imediata de
todas as empresas imperialistas" e,
3) "a entrega das grandes propriedades aos camponeses trabalhadores rurais que as cultivam",
que será executada por um "governo popular orientado somente pelos interesses do povo brasileiro".
É impossível saber como um
programa tão "moderno", que inclui 1) não pagar a dívida externa
do governo (que já não existe), 2)
nacionalizar o que já foi privatizado (negando toda a evidência de
aumento de produtividade) e 3) fazer a reforma agrária (que mal ou
bem vendo sendo feita), pode ter
chegado até nós. Comenta-se que o
programa ressuscitado na tal sessão espírita foi o que acompanhou
em vida o irrequieto jornalista Carlos Lacerda (o novo "guru" da ex-quase esquerda), que, quando ainda "brilhante" estudante comunista, o leu no Teatro João Caetano,
em julho de 1935.
Era o programa da saudosa
Aliança Nacional Libertadora!
dep.delfimnetto@camara.gov.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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