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DROGA ESQUECIDA
Sob o ponto de vista de saúde pública, as drogas que, de longe,
mais merecem a atenção das autoridades são o tabaco e o álcool. Sobre
este último, as Nações Unidas acabam de patrocinar um estudo na cidade de Rio Branco, capital do Estado brasileiro do Acre, cujos resultados são assustadores.
De acordo com o estudo, um em
cada três habitantes da capital acreana usa assiduamente algum tipo de
droga. Nesse universo de usuários,
87% são alcoólatras. O resultado é
uma espécie de desafio ao que geralmente se sabe sobre o assunto. De
acordo com o Ministério da Saúde,
há um alcoólatra para cada sete brasileiros; a média mundial, segundo a
OMS, é estimada em um alcoólatra
para cada dez cidadãos. Pela pesquisa feita em Rio Branco, no entanto,
essa relação é de um para quatro.
O mais provável para explicar esses
números, e suas diferenças, é que
atue aí uma dupla de fatores: bebe-se
realmente mais na capital acreana; a
maioria das pesquisas sobre o assunto carece de exatidão e tende à subnotificação. De fato, em sondagens que
procuram verificar a quantidade de
usuários assíduos de bebidas alcoólicas, é comum o dependente furtar-se
a reportar com fidelidade a sua situação pessoal.
O fato de ser um hábito socialmente aceitável dificulta que os efeitos do
abuso do álcool sejam encarados
com a atenção devida. Mas as estatísticas dessa epidemia etílica podem
servir como alerta. Calcula-se que
75% dos acidentes automobilísticos
fatais estejam associados ao uso de
álcool. A relação entre acidentes no
trabalho e dependência alcoólica é
também sabidamente alta.
Nesse contexto, é preciso cobrar
das autoridades responsáveis pela
saúde pública no Brasil mais ação
contra os efeitos da dependência alcoólica e mais política preventiva. O
controle da venda de bebida alcoólica
a crianças e adolescentes no país é pífio. A lei que disciplina a veiculação
de propaganda de produtos como tabaco e álcool deixa de lado, inexplicavelmente, a cerveja, bebida largamente consumida e que também
causa dependência.
O álcool precisa entrar de vez no rol
das grandes preocupações da saúde
pública no Brasil.
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