São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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DROGA ESQUECIDA

Sob o ponto de vista de saúde pública, as drogas que, de longe, mais merecem a atenção das autoridades são o tabaco e o álcool. Sobre este último, as Nações Unidas acabam de patrocinar um estudo na cidade de Rio Branco, capital do Estado brasileiro do Acre, cujos resultados são assustadores.
De acordo com o estudo, um em cada três habitantes da capital acreana usa assiduamente algum tipo de droga. Nesse universo de usuários, 87% são alcoólatras. O resultado é uma espécie de desafio ao que geralmente se sabe sobre o assunto. De acordo com o Ministério da Saúde, há um alcoólatra para cada sete brasileiros; a média mundial, segundo a OMS, é estimada em um alcoólatra para cada dez cidadãos. Pela pesquisa feita em Rio Branco, no entanto, essa relação é de um para quatro.
O mais provável para explicar esses números, e suas diferenças, é que atue aí uma dupla de fatores: bebe-se realmente mais na capital acreana; a maioria das pesquisas sobre o assunto carece de exatidão e tende à subnotificação. De fato, em sondagens que procuram verificar a quantidade de usuários assíduos de bebidas alcoólicas, é comum o dependente furtar-se a reportar com fidelidade a sua situação pessoal.
O fato de ser um hábito socialmente aceitável dificulta que os efeitos do abuso do álcool sejam encarados com a atenção devida. Mas as estatísticas dessa epidemia etílica podem servir como alerta. Calcula-se que 75% dos acidentes automobilísticos fatais estejam associados ao uso de álcool. A relação entre acidentes no trabalho e dependência alcoólica é também sabidamente alta.
Nesse contexto, é preciso cobrar das autoridades responsáveis pela saúde pública no Brasil mais ação contra os efeitos da dependência alcoólica e mais política preventiva. O controle da venda de bebida alcoólica a crianças e adolescentes no país é pífio. A lei que disciplina a veiculação de propaganda de produtos como tabaco e álcool deixa de lado, inexplicavelmente, a cerveja, bebida largamente consumida e que também causa dependência.
O álcool precisa entrar de vez no rol das grandes preocupações da saúde pública no Brasil.


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