São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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MONTES DE IRA

Os séculos vão se sucedendo e a Europa não consegue dar uma solução duradoura para os problemas interétnicos nos Bálcãs. A crise na Iugoslávia, que já gerou quatro conflitos nos anos 90, inclusive um com a intervenção da Otan, voltou a crescer em consequência das eleições na Iugoslávia.
O atual presidente, Slobodan Milosevic, acusado de ter incentivado as guerras recentes, perdeu as eleições do domingo passado para o oposicionista Vojislav Kostunica, mas insiste na realização de um segundo turno. O problema é que Kostunica afirma ter vencido com mais de 50% dos votos, o que dispensaria o segundo turno. A República de Montenegro, que com a Sérvia compõe a Iugoslávia atual, boicotou o pleito.
Há fortes indícios de que realmente houve fraude, pois todas as pesquisas de intenção de voto realizadas por institutos independentes davam mais da metade dos votos para o oposicionista. Kostunica se nega a disputar um novo turno e, a cada dia que passa, recebe mais apoios, inclusive da Igreja Ortodoxa e de setores militares. Agora, fala-se numa campanha de desobediência civil até que Milosevic entregue o poder. Sob muitos aspectos, a situação guarda semelhança com as revoluções pacíficas que varreram o comunismo do Leste Europeu no final dos anos 80.
Como naquela ocasião, resta saber se Milosevic abandonará o poder pacificamente. Por inúmeras razões, poucos analistas apostam numa radicalização, mas nenhum exclui essa possibilidade. E, como com tudo o que ocorre nos Bálcãs, a internacionalização de um eventual conflito não pode ser descartada.
E, como no começo do século, a Europa e até os EUA não parecem ter uma estratégia sólida para solucionar as disputas nos Bálcãs.


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