São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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CLÓVIS ROSSI

FHC, imite o FMI

BERLIM - Nos muitos quilômetros já rodados na cobertura de eventos internacionais de que o Brasil participa, não me lembro de nenhum outro momento em que o país tenha deixado de ser notícia como aconteceu em Praga, no Encontro Anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial.
Não ser notícia é uma extraordinária notícia.
Durante duas décadas, até 1985, o Brasil sempre esteve em evidência (negativa), mesmo nas épocas de bonança econômica, pelo seu, digamos, déficit democrático. Por mais que apóiem ditaduras e façam negócios com elas, os países ricos são obrigados a observar o ritual de manter uma distância prudente.
E a mídia norte-americana e especialmente européia costuma cair matando em cima de tais regimes.
Depois da redemocratização, veio o turbilhão econômico e institucional. Superinflação, moratória, impeachment, um plano econômico atrás do outro, um fracasso após o outro.
O Plano Real quase encerrou o ciclo, não estivesse ancorado em um câmbio irreal (sem trocadilho), que provocou a vulnerabilidade que, por sua vez, colocava o Brasil sempre como potencial bola da vez, a ser olhado com preocupação cada vez que se fazia uma reunião como a de Praga.
Agora, não. Claro que persiste o secular problema da miséria e da obscena distribuição de renda, para não mencionar as sequelas de uma e de outra. Mas são situações tão arraigadas que, para o resto do mundo, parecem fazer parte da ordem natural das coisas brasileiras. Já não espantam nem chocam, a não ser quando há uma Candelária, um Eldorado dos Carajás ou similares.
Como miséria e desigualdade social entraram na agenda, pelo menos retórica, tanto do FMI como do Banco Mundial, e como o governo brasileiro adora adorá-los, que tal sintonizar a nova onda?




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