São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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KENNETH MAXWELL

Crédito e culpa

Na sexta-feira passada, Jim O'Neill, presidente da divisão de gestão de ativos do Goldman Sachs e criador do acrônimo Bric, escreveu para o jornal "Financial Times" um artigo sobre os legados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Lula, ele aponta, pode ser considerado como "o mais bem-sucedido líder político do G20 nos últimos dez anos".
Seu sucesso se deve em larga medida a ter conservado boa parte daquilo que herdou de FHC, especialmente as metas inflacionárias e a taxa de câmbio flexível.
O'Neill falou sobre mediar um futuro almoço do "Financial Times" na praia de Ipanema, no qual FHC e Lula debateriam o futuro do Brasil.
No entanto, no dia em que o artigo de O'Neill foi publicado pelo "Financial Times", Fernando Henrique Cardoso, em almoço no restaurante Carlota, em Higienópolis, com o correspondente do jornal britânico Jonathan Wheatley, lançou uma de suas frequentes tiradas contra Lula. O que serviu como nova demonstração de que os dois líderes se detestam e que o convite de Jim O'Neill provavelmente não seria recebido com agrado por nenhum deles.
FHC argumentou em sua entrevista ao "Financial Times" que o Brasil precisa de uma nova onda de reformas -reforma fiscal, impostos mais baixos, investimento em capital humano e em infraestrutura.
"Lula, de certa maneira, anestesiou o Brasil", observou FHC. "Nós nos esquecemos de que o Brasil precisa continuar avançando. O que consegui fazer levou o país adiante. Mas isso parou". Lula "ascendeu da classe trabalhadora e se comporta como se fosse parte da velha elite conservadora.
Eu promovi as reformas. Lula aproveitou a onda".
Decerto não se poderia acusar O'Neill de otimismo ingênuo. Ele reconhece que resta muito a realizar para que o Brasil possa desenvolver plenamente o seu potencial.
Menciona "o comércio internacional insuficiente, o governo grande demais e o excesso de corrupção". Mas acredita que o Brasil esteja preparado para crescer entre 5% e 6% ao ano durante muitos anos e que o país se sai bem em termos de educação e tecnologia se comparado aos demais países do grupo Bric.
Atribui a Lula o crédito por grandes realizações, algo que Fernando Henrique ainda não se dispõe a fazer. O que é, no fim das contas, uma grande pena.
Qualquer que seja o resultado da eleição presidencial do próximo domingo, a popularidade continuada de Lula demonstra que a vasta maioria do povo brasileiro concorda.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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