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KENNETH MAXWELL
Crédito e culpa
Na sexta-feira passada, Jim
O'Neill, presidente da divisão
de gestão de ativos do Goldman Sachs e criador do acrônimo Bric, escreveu para o jornal "Financial Times" um artigo sobre os legados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e de seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Lula, ele aponta, pode ser
considerado como "o mais
bem-sucedido líder político do
G20 nos últimos dez anos".
Seu sucesso se deve em larga
medida a ter conservado boa
parte daquilo que herdou de
FHC, especialmente as metas
inflacionárias e a taxa de câmbio flexível.
O'Neill falou sobre mediar
um futuro almoço do "Financial Times" na praia de Ipanema, no qual FHC e Lula debateriam o futuro do Brasil.
No entanto, no dia em que o
artigo de O'Neill foi publicado
pelo "Financial Times", Fernando Henrique Cardoso, em
almoço no restaurante Carlota, em Higienópolis, com o
correspondente do jornal britânico Jonathan Wheatley,
lançou uma de suas frequentes tiradas contra Lula. O que
serviu como nova demonstração de que os dois líderes se
detestam e que o convite de
Jim O'Neill provavelmente
não seria recebido com agrado
por nenhum deles.
FHC argumentou em sua
entrevista ao "Financial Times" que o Brasil precisa de
uma nova onda de reformas
-reforma fiscal, impostos
mais baixos, investimento em
capital humano e em infraestrutura.
"Lula, de certa maneira,
anestesiou o Brasil", observou
FHC. "Nós nos esquecemos de
que o Brasil precisa continuar
avançando. O que consegui
fazer levou o país adiante. Mas
isso parou". Lula "ascendeu
da classe trabalhadora e se
comporta como se fosse parte
da velha elite conservadora.
Eu promovi as reformas. Lula
aproveitou a onda".
Decerto não se poderia acusar O'Neill de otimismo ingênuo. Ele reconhece que resta
muito a realizar para que o
Brasil possa desenvolver plenamente o seu potencial.
Menciona "o comércio internacional insuficiente, o governo grande demais e o excesso de corrupção". Mas
acredita que o Brasil esteja
preparado para crescer entre
5% e 6% ao ano durante muitos anos e que o país se sai
bem em termos de educação e
tecnologia se comparado aos
demais países do grupo Bric.
Atribui a Lula o crédito por
grandes realizações, algo que
Fernando Henrique ainda não
se dispõe a fazer. O que é, no
fim das contas, uma grande
pena.
Qualquer que seja o resultado da eleição presidencial do
próximo domingo, a popularidade continuada de Lula demonstra que a vasta maioria
do povo brasileiro concorda.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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