São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002

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DÓLAR, DÍVIDAS e DÚVIDAS

Desde que Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil, a cotação do dólar subiu 2,5%. Não houve, até agora, a disparada que alguns temiam. Tampouco teve continuidade a descompressão da semana que antecedeu a eleição.
Não está claro o que reforçou a pressão sobre o dólar nos últimos dias. Um dos fatores talvez seja a ansiedade em relação a definições do governo Lula, sobretudo da futura equipe econômica -embora alguma demora nessas definições seja compreensível, tendo em vista a complexidade da montagem do governo, que terá de ser articulada à costura da base parlamentar.
Outro fator que deve continuar a pesar, nas próximas semanas, serão os elevados vencimentos da dívida pública atrelada ao dólar. Como o mercado de câmbio continua com poucas operações, há indícios de que os detentores desses títulos ainda têm condições de forçar altas nos dias que definem o valor pelo qual serão resgatados.
Numa perspectiva de tempo mais larga, no entanto, parece claro que o maior fator de pressão sobre o dólar é a retração da oferta de crédito externo. Há vários sinais de que o dólar já está "caro" demais: o saldo do comércio de bens e serviços com o exterior melhora com rapidez impressionante; e os bancos evitam comprar títulos com correção cambial, revelando o receio de perdas com eventual queda do dólar nos próximos meses. Mas, enquanto o crédito externo seguir muito retraído, esse potencial de queda do dólar poderá não se materializar.
A retomada do crédito externo depende, em grande medida, de elementos fora do controle dos nossos governantes, atuais e futuros. A retração dos credores externos está ligada sobretudo a seus temores sobre o futuro das economias mais ricas. Esses temores foram renovados, ontem, pela divulgação de que a confiança dos consumidores dos EUA caiu, em outubro, para o nível mais baixo dos últimos nove anos.
Com o empréstimo do FMI, deve haver como financiar as obrigações externas do setor público em 2003. O problema maior reside na dívida privada. Está muito difícil renovar os créditos. E pagá-los, com o dólar nas alturas, pode ser inviável -como sugere a decisão da Globopar de reescalonar suas dívidas. Se o crédito externo custar a voltar, impedindo uma descompressão do dólar, novos "reescalonamentos" poderão surgir.


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