|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DÓLAR, DÍVIDAS e DÚVIDAS
Desde que Luiz Inácio Lula da
Silva foi eleito presidente do
Brasil, a cotação do dólar subiu
2,5%. Não houve, até agora, a disparada que alguns temiam. Tampouco
teve continuidade a descompressão
da semana que antecedeu a eleição.
Não está claro o que reforçou a
pressão sobre o dólar nos últimos
dias. Um dos fatores talvez seja a ansiedade em relação a definições do
governo Lula, sobretudo da futura
equipe econômica -embora alguma demora nessas definições seja
compreensível, tendo em vista a
complexidade da montagem do governo, que terá de ser articulada à
costura da base parlamentar.
Outro fator que deve continuar a
pesar, nas próximas semanas, serão
os elevados vencimentos da dívida
pública atrelada ao dólar. Como o
mercado de câmbio continua com
poucas operações, há indícios de que
os detentores desses títulos ainda
têm condições de forçar altas nos
dias que definem o valor pelo qual
serão resgatados.
Numa perspectiva de tempo mais
larga, no entanto, parece claro que o
maior fator de pressão sobre o dólar
é a retração da oferta de crédito externo. Há vários sinais de que o dólar já
está "caro" demais: o saldo do comércio de bens e serviços com o exterior melhora com rapidez impressionante; e os bancos evitam comprar
títulos com correção cambial, revelando o receio de perdas com eventual queda do dólar nos próximos
meses. Mas, enquanto o crédito externo seguir muito retraído, esse potencial de queda do dólar poderá não
se materializar.
A retomada do crédito externo depende, em grande medida, de elementos fora do controle dos nossos
governantes, atuais e futuros. A retração dos credores externos está ligada sobretudo a seus temores sobre
o futuro das economias mais ricas.
Esses temores foram renovados, ontem, pela divulgação de que a confiança dos consumidores dos EUA
caiu, em outubro, para o nível mais
baixo dos últimos nove anos.
Com o empréstimo do FMI, deve
haver como financiar as obrigações
externas do setor público em 2003. O
problema maior reside na dívida privada. Está muito difícil renovar os
créditos. E pagá-los, com o dólar nas
alturas, pode ser inviável -como sugere a decisão da Globopar de reescalonar suas dívidas. Se o crédito externo custar a voltar, impedindo uma
descompressão do dólar, novos
"reescalonamentos" poderão surgir.
Texto Anterior: Editoriais: VOTO ELETRÔNICO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A educação do presidente Índice
|