|
Próximo Texto | Índice
MÁQUINA DE PAGAR JUROS
O setor público brasileiro, ao
longo do ano passado, poupou R$ 52 bilhões de suas receitas
tributárias a fim de tentar conter a escalada do endividamento. O índice
do superávit primário em relação ao
Produto Interno Bruto foi recorde:
ultrapassou 4% e bateu a meta acertada com o Fundo Monetário Internacional, de 3,88%. Ainda assim, o
estoque de dívida pública líquida
chegou aos 56% do PIB, um aumento de mais de três pontos percentuais
em relação ao nível de 2001.
O Estado brasileiro foi transformado numa máquina cada vez mais
"eficiente" de pagar juros. Somente
no ano passado despendeu R$ 114
bilhões nessa atividade, ou 8,5% do
PIB. Essa armadilha de juros altos
dominou a política fiscal. A dívida
pública, ilimitadamente onerada pela política monetária, segue sempre à
frente da poupança feita pelo governo para arcar com a conta dos juros.
Esse arranjo perverso de política
econômica impõe vários ônus à sociedade. O aumento da carga tributária ao mesmo tempo diminui a capacidade de poupança e consumo dos
cidadãos e sequestra competitividade do setor produtivo. Como boa fatia desse aumento extra de receitas
tributárias é utilizada pelo poder público para arcar com despesas financeiras, o cidadão que é mais taxado
não recebe, como contrapartida,
uma melhora proporcional dos serviços públicos.
A capacidade de investimento do
Estado fica comprometida, como
evidenciou a crise de abastecimento
de eletricidade em 2001. O mesmo
ocorre no setor privado, submetido a
juros e tributos asfixiantes. Sem investimento, público e privado, o
ajuste das contas externas se faz pela
via do desemprego, através da contenção do crescimento econômico.
Até hoje a política monetária foi suficientemente autônoma para escapar dos ditames do ajuste fiscal. E o
governo Lula, que agora promete
conceder autonomia formal ao BC,
não se mostra disposto a mudar essa
escrita. O sofrimento vai continuar.
Próximo Texto: Editoriais: O DISCURSO DE BUSH Índice
|