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São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A hora para o Iraque se desarmar

PATRICK DUDDY

Desde o fim da Guerra do Golfo, em 1991, os Estados Unidos, a ONU e a comunidade internacional têm trabalhado em conjunto para fazer com que o Iraque revele e desmonte todos os seus programas de armas nucleares, químicas e bacteriológicas. No dia 8 de novembro de 2002, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou por unanimidade a resolução 1441, que prevê a verificação do desarmamento iraquiano por inspetores da organização. O CS também deixou claro que a resolução é a última oportunidade para o Iraque se desarmar.
Como disse recentemente a assessora de Segurança Nacional dos EUA, Condoleezza Rice, muitas questões sobre os programas e arsenais iraquianos de armas nucleares, químicas e bacteriológicas continuam sem esclarecimentos e cabe ao Iraque a obrigação de fornecer essas respostas. Em claro desafio à resolução 1441, o Iraque não está permitindo aos inspetores "acesso imediato, desimpedido e irrestrito" a instalações e pessoas envolvidas em seu programa de armas. Tanto pelo que tem feito como pelo que tem deixado de fazer, o Iraque está demonstrando não ser um país inclinado ao desarmamento, mas que tem algo a esconder.
Não existe mistério quanto ao desarmamento voluntário. Nações que decidem se desarmar abrem seus locais de produção de armas a inspetores, respondem às suas perguntas antes mesmo que elas sejam feitas, declaram publicamente a intenção de se desarmar e pedem a cooperação de seus cidadãos nesse sentido. O mundo sabe, por meio dos exemplos de África do Sul, Ucrânia e Cazaquistão, como funciona um programa de desarmamento no qual um governo decide que vai desistir de modo cooperativo de suas armas de destruição em massa. Os elementos cruciais comuns desses esforços incluem compromisso político de alto nível para se desarmar, iniciativas nacionais para desmontar programas de armas e cooperação total.
O comportamento do Iraque não poderia oferecer contraste mais rigoroso. Foi particularmente perturbadora a descoberta que os inspetores fizeram na semana passada de 12 ogivas químicas não incluídas na declaração do Iraque às Nações Unidas. No passado, o Iraque encheu esse tipo de ogiva com sarin, gás mortal que afeta o sistema nervoso e que, utilizado por terroristas japoneses em 1995, matou 12 pessoas e fez adoecer milhares.


A obediência à resolução 1441 é o melhor caminho para evitar um conflito militar, que é a última opção do presidente Bush


O Iraque também deixou de fornecer aos inspetores da ONU a documentação pela qual garante ter destruído seus estoques de VX, um agente químico ainda mais mortal, que o país produziu no passado. Aparentemente, os inspetores já descobriram que o Iraque não informou o paradeiro de cerca de 30 mil cartuchos com agentes químicos. Apresentar quatro cartuchos dificilmente pode ser aceito como prova de boa vontade de cooperar com a comunidade internacional, representada no caso pelos inspetores das Nações Unidas.
O presidente Bush tem dito que sua intenção é trabalhar com o mundo em nome da paz para desarmar o Iraque, porque as armas iraquianas de destruição em massa constituem ameaça direta aos cidadãos dos EUA e aos seus aliados. De fato, essa é a vontade expressa da comunidade mundial, conforme deixou claro a votação unânime da resolução 1441. O presidente Bush está trabalhando com as Nações Unidas e com muitos países para que a vontade do mundo prevaleça.
Ao desarmar o Iraque, a comunidade internacional tem uma oportunidade de se voltar à paz e de tornar o mundo um lugar mais seguro para se viver. O Iraque precisa pôr fim, de uma vez por todas, ao seu programa de armas de destruição em massa. A obediência à resolução 1441 é o melhor caminho para evitar um conflito militar. O presidente Bush já disse que a ação militar é a última opção. Os EUA querem que as inspeções sejam bem sucedidas e que cheguem a um resultado pacífico. O momento para o Iraque se desarmar é agora.

Patrick Duddy, diplomata, é cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo.


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