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CLÓVIS ROSSI
O BC joga os búzios
SÃO PAULO - Logo após a desastrada decisão do Banco Central de não reduzir os juros, seu presidente, Henrique Meirelles, viajou para Davos, onde admitiu que houvera uma porção
de "ruídos" a respeito da decisão,
mas que ele preferia ficar com um deles: o dos mercados.
A calma com que os mercados teriam reagido, disse Meirelles, indicaria que o BC estava correto em sua
cautela. E agora, José, digo Henrique?
Os mercados se agitaram como fazia
tempo não se via. Significa que o BC
estava errado pela lógica de seu próprio presidente?
Claro que não. Alguém já viu uma
autoridade graúda admitir francamente que errou? O erro está nos
mercados, que não "leram" direito a
ata com a qual o Copom (Comitê de
Política Monetária) faz de conta que
explica a decisão.
A ata do Copom nada explica. Diz,
por exemplo: "A maior variação da
inflação em dezembro pode significar
apenas um evento isolado, provocado por motivos sazonais ou extraordinários, ou prenunciar uma aceleração persistente da inflação".
Equivale a dizer que o jogo pode
terminar com a vitória do time A, do
time B ou em empate. Ridículo.
A nota diz ainda que a "maior cautela" adotada, ao não reduzir os juros, "não acarretaria riscos significativos para o processo de recuperação
da atividade em curso desde o terceiro trimestre de 2003".
Ora, se a cartilha do BC (e da Fazenda) diz que a queda do risco-país,
do dólar e dos juros assenta as bases
para o crescimento da economia, pela mesma lógica só se pode concluir
que o aumento do risco-país e do dólar e a não-redução dos juros têm,
sim, efeito sobre o crescimento. Repito: pela lógica do Banco Central e da
Fazenda, que passaram o ano vendendo essa baboseira ao público.
Na prática, é o seguinte: o BC brasileiro faz de conta que é o Fed norte-americano, mas toma suas decisões,
a julgar pela ata agora divulgada,
com o mesmo critério científico do jogo de búzios.
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