São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Valores morais e economia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Índia, acaba de afirmar (27/1), com coragem, que "a hora é da política de inclusão social". E acrescentou que "a presença dos países pobres na cena internacional dependerá da capacidade de vencer a exclusão social, a fome e o desemprego".
É preciso garantir que a economia se subordine aos valores morais. A construção da civilização solidária fundamenta-se na justiça, na verdade, na liberdade e na paz. Assim, a prioridade dos valores morais deve nortear as decisões da Organização das Nações Unidas, evitando a ganância e o domínio dos países mais fortes. A ONU, com efeito, deverá tornar-se o "centro moral" em que as nações realizem a meta de formar a verdadeira "família das nações", como já exortava o Papa João Paulo 2º, em Nova York, ao comemorar os 50 anos de fundação da ONU (5/10/95).
Esse ideal requer respeito e apoio mútuo entre as nações, assegurando que não haja opressão das minorias, mas um acordo que fixe direitos e deveres válidos para todas as nações.
A soberania de leis do mercado desvinculadas dos critérios do bem comum acarretou enormes disparidades e injustiças sociais.
A lição vale para o Brasil. Temos de insistir na urgência de orientar o desenvolvimento econômico para a promoção da dignidade da pessoa. A extrema desigualdade social, aliada à corrupção e à impunidade, abriu caminho para tensões e conflitos cada vez mais violentos. Essa situação nega o plano de Deus de uma sociedade solidária e fraterna.
Nota-se, nos últimos meses, empenho maior para superar a miséria, a fome, a mortalidade infantil e o analfabetismo. Permanecem, no entanto, o flagelo do desemprego na agricultura e na indústria e o aumento da economia informal.
É necessário unir forças para enfrentar as causas dos males e para garantir políticas públicas que correspondam aos justos anseios do povo.
Há metas urgentes para o nosso governo:
a) o esforço para criar mais opções de trabalho que atendam aos desempregados, oferecendo-lhes qualificação profissional;
b) o investimento prioritário dos recursos econômicos nos setores de saúde e educação nos bairros pobres e nas regiões rurais;
c) a decisão política para assegurar a propriedade rural e os apoios técnicos aos sem-terra, eliminando pela raiz as invasões e repressões violentas;
d) o empenho maior para solucionar a situação da seca e para promover o desenvolvimento eqüitativo da região Nordeste.
e) o cumprimento da Constituição na demarcação das terras indígenas e o respeito à própria cultura.
A precedência da dignidade da pessoa e dos valores morais abrirá, com a proteção divina, perspectivas de esperança para o futuro no Brasil e para o destino das nações.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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