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VITRINE ESTILHAÇADA
A atual crise na polícia do Rio de Janeiro é o reflexo de uma política contraditória que não poderia manter-se
em vigor por muito mais tempo.
De um lado estava a aparente disposição do governador Anthony Garotinho (PDT) de reformular a segurança
pública, transformando-a numa espécie de vitrine de sua administração.
De outro, as vicissitudes da administração de um Estado com altos índices de violência e a necessidade de
uma polícia razoavelmente operacional, ainda que à custa de alguma truculência e, suspeita-se, coisa pior.
Prevaleceu a segunda alternativa.
Talvez até porque a tarefa de reformar a polícia esteja algo além do que
pode um governador. Os interesses
que determinam o que as forças de
segurança fazem ou deixam de fazer
são poderosos demais e deitam seus
tentáculos sobre as mais variadas esferas da sociedade.
O fato, contudo, é que o que poderia ter sido a simples renúncia a um
projeto, por inviável ou superdimensionado, degenerou numa crise. Devem-se aí computar inabilidades políticas de todas as partes, mas principalmente de Anthony Garotinho,
que tem preferido saídas fáceis como
mandar investigar autores de denúncias em vez de tentar apurá-las.
Não é exagero afirmar que a presente crise, que ontem galgou novos
patamares, compromete o projeto de
Garotinho de lançar seu nome no cenário político nacional. A área que ele
pretendia que fosse a sua vitrine foi,
por assim dizer, estilhaçada e não será fácil recolher os cacos e tentar remodelá-los numa nova janela.
Esse não é um processo exatamente
inédito. Vários outros governadores
fluminenses enfrentaram os mesmos problemas no mesmo setor e tiveram suas carreiras abrupta ou melancolicamente encerradas. É cedo
para afirmar que o mesmo vá acontecer a Garotinho, mas a segurança pública no Rio de Janeiro está se firmando como um verdadeiro cemitério de
carreiras políticas.
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