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CLÓVIS ROSSI
De gente e de plástico
SÃO PAULO - Suspeito de que até
os mais furibundos adversários de
George Walker Bush terão dado ao
menos um sorriso ao ler as piadinhas que o presidente norte-americano contou a respeito dele próprio. Se já é difícil para o mortal comum rir dos problemas e desgraças
que enfrenta, para os poderosos é
muitíssimo mais difícil.
Para quem não leu o texto de Sérgio Dávila, reproduzo uma das autoflagelações do presidente norte-americano:
"Há um ano, meu índice de aprovação estava em 30%, meu indicado
à Suprema Corte tinha acabado de
desistir e meu vice-presidente tinha atirado em alguém. (Pausa).
Ah, bons tempos...".
Duvido que algum presidente
brasileiro, em situação parecida, fizesse comentário ao menos semelhante com a própria situação. Conheci todos de Ernesto Geisel em
diante. Levam-se todos demasiado
a sério para a auto-ironia. Fazem, o
tempo todo, pose de estadista-24-horas-de-plantão, o que evidentemente é uma falsificação dos fatos.
Só José Sarney, justiça se faça, não
vestia esse terno, talvez por ter chegado à Presidência por acaso, e não
pelo voto.
Itamar Franco, na mesma situação, tinha tanto apego à chamada
"majestade do cargo" que, uma vez,
se recusou a ir a um shopping center, em Santiago do Chile, porque
seria fatalmente acompanhado pelos jornalistas de plantão no hotel
em que se hospedou e achava que
não ficava bem um presidente ser
visto em tão prosaico local.
Fernando Henrique Cardoso e
Lula até que têm humor para a auto-ironia, mas, se a exercem, não o
fazem na frente de jornalistas, ao
menos de jornalistas que não sejam
íntimos. Comigo, são até muito afáveis, mesmo depois das mais duras
críticas, mas preferem cutucar os
outros (inclusive seus amigos) a rir
deles próprios.
É pena. Seres humanos são mais
divertidos que gente de plástico.
crossi@uol.com.br
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