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CLÓVIS ROSSI
Além da bruma da crise
LONDRES - Por fim, na vertigem
da crise, algumas vozes do establishment começam a olhar além e
a tentar adivinhar -ou desejar-
como seria o mundo pós-crise.
Uma das vozes atende pelo nome
de Luiz Inácio Lula da Silva e diz,
em artigo ontem publicado pelo "Le
Monde", que, "mais grave que uma
crise econômica, estamos diante de
uma crise de civilização. Ela exige
novos paradigmas, novos modelos
de consumo e novas formas de organização da produção".
Concorda com ele relatório da
Comissão de Desenvolvimento
Sustentável, instituto independente de assessoria do governo britânico, que procura separar "prosperidade" de "crescimento". O texto pede aos governos para "desenvolver
um sistema econômico sustentável
que não se apoie em um consumo
sempre crescente".
Reforça Malloch Brown, o principal negociador britânico para a cúpula do G20: "Veremos [após a crise] uma recalibrada no estilo de vida, toda uma nova visão de futuro
de um mundo menos conduzido
pelo consumismo, talvez com o
acréscimo de um mundo no qual o
poder tenha sido algo mais bem
distribuído".
Fecha o circuito Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio e um funcionário
internacional ao qual se é obrigado
a prestar atenção pela qualidade de
suas análises:
"O modelo de capitalismo que conhecemos nos últimos 50 anos não
se sustenta. A questão fundamental
é saber se há que readaptar, arrumar ou reformar o capitalismo ou
se é preciso ir além, ser mais profundo nas mudanças e ir mais fundo nos retoques". Completa: "Creio
que não temos que nos satisfazer
intelectualmente com o horizonte
atual do capitalismo".
Bem-vindos todos ao clube do
"outro mundo é possível". Mas palavras só não bastam. Vocês que são
todos "insiders", que tal reconstruir
a civilização?
crossi@uol.com.br
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