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INÉRCIA RECESSIVA
Os temores de que a economia
brasileira esteja em rota recessiva encontram respaldo nos indicadores recentemente divulgados. Os
dados relativos ao desempenho da
atividade no primeiro trimestre confirmaram as apreensões quanto a
um quadro de estagnação. Como se
sabe, não apenas o PIB apresentou
pequena contração como os principais componentes da demanda interna -o consumo das famílias e o
investimento- declinaram.
Contribuem para esse movimento
negativo outros fatores importantes,
como a perda de poder de compra
dos trabalhadores, que, além do
crescente desemprego, não têm conseguido que seus rendimentos
acompanhem a alta de preços. Não
se pode deixar de mencionar ainda a
escassa oferta de crédito e a queda do
investimento público. A expectativa
de diversos analistas diante do resultado do PIB é a de que os índices do
segundo trimestre deverão ser ainda
piores.
As autoridades econômicas têm invocado a preocupação com a inflação para justificar a permanência de
uma política de juros altos. As evidências, no entanto, são de que não
há espaço para reindexações de salários -dado o quadro geral de restrição e o desemprego, que vai alcançando níveis recordes.
É improvável, nesse contexto, a inflação demonstrar um comportamento "inercial" que modifique sua
trajetória de queda. Se há perigo de
"inércia", ele parece residir no fato
de que as decisões a serem tomadas
pelos agentes econômicos -como
consumir, investir, contratar etc.-
são fortemente influenciadas pelo
momento e pelas expectativas, projetando seus efeitos no futuro.
Essa espécie de "inércia recessiva"
pode estar reservando à economia do
país um período mais longo e mais
grave de privações. No grave quadro
de fragilidade que já se evidenciou, se
as autoridades permanecerem imóveis em seu excessivo conservadorismo, a recessão irá encontrar ambiente para se instalar.
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