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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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INÉRCIA RECESSIVA

Os temores de que a economia brasileira esteja em rota recessiva encontram respaldo nos indicadores recentemente divulgados. Os dados relativos ao desempenho da atividade no primeiro trimestre confirmaram as apreensões quanto a um quadro de estagnação. Como se sabe, não apenas o PIB apresentou pequena contração como os principais componentes da demanda interna -o consumo das famílias e o investimento- declinaram.
Contribuem para esse movimento negativo outros fatores importantes, como a perda de poder de compra dos trabalhadores, que, além do crescente desemprego, não têm conseguido que seus rendimentos acompanhem a alta de preços. Não se pode deixar de mencionar ainda a escassa oferta de crédito e a queda do investimento público. A expectativa de diversos analistas diante do resultado do PIB é a de que os índices do segundo trimestre deverão ser ainda piores.
As autoridades econômicas têm invocado a preocupação com a inflação para justificar a permanência de uma política de juros altos. As evidências, no entanto, são de que não há espaço para reindexações de salários -dado o quadro geral de restrição e o desemprego, que vai alcançando níveis recordes.
É improvável, nesse contexto, a inflação demonstrar um comportamento "inercial" que modifique sua trajetória de queda. Se há perigo de "inércia", ele parece residir no fato de que as decisões a serem tomadas pelos agentes econômicos -como consumir, investir, contratar etc.- são fortemente influenciadas pelo momento e pelas expectativas, projetando seus efeitos no futuro.
Essa espécie de "inércia recessiva" pode estar reservando à economia do país um período mais longo e mais grave de privações. No grave quadro de fragilidade que já se evidenciou, se as autoridades permanecerem imóveis em seu excessivo conservadorismo, a recessão irá encontrar ambiente para se instalar.


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