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Petropopulismo
Experiência mostra que o "bilhete premiado" do petróleo vira maldição quando recursos fluem para o assistencialismo
TIRAMOS um "bilhete premiado", afirmou o presidente Lula, na última
quinta-feira, a respeito
da descoberta de um novo manancial de petróleo em águas ultraprofundas. Não é por isso,
acrescentou, que devemos "nos
deslumbrar e sair por aí gastando o que ainda não temos".
A frase presidencial reflete um
espírito de prudência que tem sido raro nos círculos oficiais, a começar do próprio Lula. Ainda assim, não é esclarecedora quanto
ao modo com que "gastaremos"
os recursos, quando eles finalmente estiverem à disposição -a
produção nas novas jazidas, dizem os especialistas, só começará a ser relevante para o país por
volta de 2014.
O evento de quinta-feira passada, voltado a uma platéia de empresários, acadêmicos e políticos, destinava-se a divulgar o
ambicioso plano de investimentos do BNDES para os próximos
quatro anos.
Nesse ambiente, Lula temperou arroubos retóricos com a
correta disposição de encarar
com "cautela" a descoberta do
recurso energético abaixo da camada de sal. Insistiu, por exemplo, na importância de que o país
não se transforme em mero exportador de óleo bruto, investindo na produção de derivados.
Não tem sido essa, contudo, a
tônica dos discursos presidenciais em ocasiões mais festivas.
Predomina a propaganda de que
a descoberta petrolífera cairá como um maná redentor sobre a
população brasileira -uma dádiva capaz de corrigir com rapidez
a desigualdade social e a péssima
qualidade do ensino público.
A preocupação em destinar os
novos recursos para desenvolver
o país e sua população pode parecer consensual. Sob a camada de
obviedade, entretanto, é que se
depositam os aspectos mais
complexos da questão.
Após o retumbante sucesso
eleitoral do Bolsa Família -que
continua a render frutos aos candidatos a prefeito associados ao
presidente no Nordeste-, difundiu-se nos meios políticos brasileiros a idéia de que transferir
renda diretamente aos mais pobres é a política social "par excellence". Nada mais perigoso do
que aplicar esse princípio, de resto cômodo, às receitas oriundas
do petróleo -no caso, obviamente, de o Brasil tornar-se
grande exportador.
Na Venezuela, que optou pelo
petroassistencialismo, a população se acostumou a esperar do
governo inchado e da estatal petrolífera compensações pecuniárias, alimentares e empreguistas.
É restrita, naquele país, a capacidade de geração de postos de trabalho e de renda fora da indústria do petróleo -fora do Estado,
portanto. Se o modelo permanecer, quando o petróleo acabar, no
futuro, os venezuelanos estarão
entregues à própria sorte.
A nação sul-americana é apenas um entre vários exemplos de
países que não conseguem explorar sua extraordinária riqueza natural de forma a assegurar a
prosperidade das gerações futuras. O "bilhete premiado", como
às vezes acontece com pessoas
despreparadas que de repente
recebem uma fortuna, pode esconder uma maldição.
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